terça-feira, 31 de maio de 2011

Uma solução.

Amor:
Uma solução para minha dor.

Uma solução.

Tenho uma vida irritante.
Gente irritante, problemas irritantes
Eu mesmo irrito-me, por vezes.

Acharei uma solução.
Carregá-la-ei em meu coração.

Tenho problemas amorosos.
Amo-a.
Ela não me ama.
Claro como água,
Doloroso como um espinho.

Ainda encontro uma solução
Deve ser algo direto, rápido como explosão.

Tenho problemas psicológicos.
Acredito que todos conspiram contra mim
E que todos sempre estão a falar de mim.
Sou também pessimista.
Teimo em não crer em mim mesmo.

Acho que encontrei uma solução
Irei engatilhá-la em minha direção.

Tenho problemas sociais.
Não sei viver em contato com outras pessoas.
Não consigo fazer amizades,
E poucas pessoas realmente gostam de mim.

Pronto, acabarei com tudo isso, digo com emoção.
Aqui em cima do olho direito, uma bala, eis a solução.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A pequena alcatéia.

Estava frio, em todos os lados via-se a branca neve, mas ela estava maculada, maculada com manchas de sangue. Em meio aos pinheiros vinha uma grande alcateia. Consistia de muitos lobos, lobos fortes, de pelagem escura e completamente maldosos.
Os lobos não confiavam uns nos outros, e tinham motivos para tal. Constantemente haviam traições, a alcateia destruía a si mesma. Os lobos buscavam apenas o poder, sem se importar com as consequências de seus actos em relação aos outros.
Estava frio, em todos os lados via-se a branca neve, mas haviam também lobos. Em meio aos pinheiros vinha uma alcateia comum. Consistia de alguns lobos, lobos fortes e fracos, de pelagem cinza e bons e maus.
Parte deles estava unida, a outra também, mas essas partes brigavam constantemente, causando a discórdia e depois a divisão da alcateia, em alcateias ainda menores.
Estava frio, em todos os lados via-se a branca neve, apenas a neve, haviam pouquíssimos lobos. Em meio aos pinheiros vinha uma pequena alcateia. Consistia de apenas três lobos, não eram tão fortes, tinham a pelagem branca e eram bondosos.
Apesar de não serem tão fortes individualmente e de serem apenas três, eram uma forte alcateia, tudo isso porque era a mais unida das alcateias.
Estava frio, e a pequena alcateia seguiu em frente.

A pequena alcatéia.

Era um homem quieto, que nunca fez mal a ninguém, apesar da aparência crua. Ele era centrado, não falava com quase ninguém, e só se comunicava se tinha alguma dúvida no seu trabalho. Ele era solitário, um lobo solitário.
Todos o viam sozinho, pra lá e pra cá. Sabiam apenas o seu nome, talvez a função que exercia, mas não mais que isso. No elevador, quando tentavam conversar com ele - antes de desistir, há muito tempo - ele respondia com "sim" e "não", sem nem mover os lábios.
Era um dia comum, que não tinha nada de ruim, apesar do clima frio. Até que começou uma cantoria, todos correram para ver o que era, menos o Lobo. Ele não estava interessado.
As pessoas iam voltando, acompanhadas de escoteiros, os escoteiros falavam e cantavam, brincavam e sorriam, estava a divulgar alguma campanha que ninguém lembra bem qual era.
As crianças já estavam preparados para partir até que uma pequena garota percebeu que o nosso Lobo não havia recebido um dos panfletos que distribuíam. Ela foi até ele, puxou-lhe a manga da blusa a fim de chamar sua atenção e entregou o panfleto. Uma colega de trabalho do Solitário disse "como esses escoteiros são bonitinhos, não?" para uma amiga. E, pela primeira vez em tempos o Lobo lhes disse algo que não bom dia: "Na verdade, eles são lobinhos." As duas ficaram tão chocadas pelo fato dele ter falado algo que nem entenderam o que ele dissera. "Lobinhos" ele continuou, "antes de se tornarem escoteiros, eles precisam ser lobinhos..." O Lobo Solitário então contou que fora escoteiro - e, antes disso, lobinho - e começou a falar das histórias de quando ainda era menino, todos se interessaram e se reuniram para ouvi-las, as pessoas de seu trabalho, os escoteiros - que, na verdade eram lobinhos - e descobriram um novo lado do Lobo. Ele cantou com os lobinhos, brincou, sorriu, riu, fez rir. Todos estavam felizes - e muitos surpresos. O Lobo tinha um sorriso belo e parecia ser uma pessoa doce, por trás daquela máscara de homem sério, ele tinha reencontrado sua infância e reavivado um pouco de sua alegria.
Daquele dia em diante as pessoas viram que ele não era antipático, somente um pouco tímido, e que se ele não falava, não era por grosseria, e sim por medo. Perceberam que a solidão muitas vezes não é uma opção e sim uma condição. Assim como o Lobo percebeu que um sorriso agradável pode abrir muitas portas para perder seu medo e conhecer melhor as pessoas, para deixar de ser sozinho.
E, de repente, o Lobo deixou de ser um Solitário. E passou a ser chamado de Lobo simplesmente porque não era mais um lobinho, mas ainda tinha o espírito de alegria que aquela pequena alcatéia levara.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Felicidade.

Happiness

I can easily translate its meaning,
But it isn't so simple to put in words the feeling.

Happiness is when I look you in the eyes,
as bright as the sky.
Happiness is when I make you smile,
and we keep the silence for a while.
Happiness is when I fall asleep in your arms,
then you hug me a little thighter to make me warm.

With you by my side,
my smile I can't hide.
And I hope this would never had to finish,
but it's only a fool wish.
Because everything have to end someday.

When we're together, it's really hard
to don't say this is, like they say, "felicidade".

domingo, 22 de maio de 2011

Felicidade.

Perguntaram-me o que é felicidade
Felicidade é tão simples.
Eu sei o que é felicidade.

Felicidade é ser tudo que sempre quis.
Felicidade é amar verdadeiramente.
Felicidade é ser amado, não menos verdadeiramente.
Felicidade é ter orgulho de si mesmo.
Felicidade é ter alguém pra chamar de seu.
Felicidade é realizar seus sonhos.
Felicidade é ter um dia para chamar de favorito.
Felicidade é sentir que faz parte de algo.

Pronto, respondi o que é felicidade.
Continua tão simples, mas percebi algo.
Não sei o que é felicidade.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Boas vindas.

É simples, você foi colocado aqui, agora lide com isso. Aqui é um lugar complicado, cheio de seres vivos, alguns são complicados, e a esses chamamos humanos, outros nem tanto, seria o caso dos cães. A esse lugar chamamos de mundo, quando no sentido mais abrangente, ou Terra, quando em referência ao planeta onde vivemos. Planeta que por sua vez é um astro sem luz própria que gira em torno de uma estrela. E não explicarei o que vem a ser uma estrela.
Pois bem, você foi colocado aqui, nós todos fomos colocados aqui. Alguns dizem que por uma força maior, conhecida como Deus, e que ele nos fez à imagem e semelhança - devo admitir que se isso for verdade, tenho muito dó de Deus, o coitado é tão fracassado. Já uma outra corrente crê que o nada estava quente e denso - sim, o nada tinha características desse tipo, mesmo sendo nada - e que desse calor surgiu tudo e coisas do tipo. Fora essas duas existem outras diversas teorias sobre nosso surgimento e coisas do tipo. Eu particularmente nunca soube exactamente em que acredito.
Certo, aí estão as bases desse mundo em que vivemos e no qual você também viverá a partir de hoje. Esse mundo é um mundo esquisito, há quem o chame de "mundo cão", mas não porque ele é simples como os cães seres vivos que se opunham aos seres humanos - também conhecidos como humanidade, ou nós - e sim porque ele é como o "cão", ou seja, como o Diabo. Diabo por sua vez que é o oposto de Deus.
Simplificando, o mundo em que vivemos é mal, doentio. E mesmo assim nós vivemos, alguns são felizes, outros tristes. Felicidade é um conceito esquisito, poucos explicam com maestria e muitos o entendem sem complicações. Tristeza é apenas a ausência de felicidade, sendo assim é complexa do mesmo modo que a felicidade. Grande parte das pessoas felizes são felizes porque não sabem que deveriam ser tristes. Eles são como Rousseau descreveu o homem no estado de natureza: subdesenvolvido, ignorantes, burros, mas felizes. Rousseau foi um moço suíço que escreveu coisas magníficas sobre a sociedade, o homem, os governos e coisas do tipo. Já o estado de natureza é algo bem mais difícil de ser entendido do que a Suíça, eu não sei explicá-lo e nem tentarei.
Muitas pessoas são tristes, e isso é bom e ruim. Bom para a indústria farmacêutica, que lucra milhões com a produção de antidepressivos. Antidepressivos são remédios que fazem com que as pessoas se sintam melhores, ou menos tristes. Remédios costumam pastilhas ou pílulas que ingerimos para que sejamos curados das mais diversas moléstias, desde dor de barriga até falta de felicidade. Já a indústria farmacêutica é um local onde se fabricam remédios. Ruim para as pessoas tristes e para aquelas que ficam próximas dela. Para as pessoas tristes porque, quando tristes, tudo parece não fazer nenhum sentido - sim, esse mundo insensato em que vivemos lhes parece ainda mais insensato - e para as pessoas que ficam próximas dela porque a tal triste pessoa pode acabar tentado o suicídio. Suicídio é o ato de matar a si próprio. Matar é acabar com aquilo que faz de nós seres vivos, a vida. Quando mortos não somos mais o que éramos, viramos apenas um pedaço de carne, um pedaço de carne que cheirará mal com o tempo. E por isso as pessoas não gostam de pessoas tristes, porque elas cometem suicídio, e ninguém gosta de gente morta, seja porque gostavam dela em vida e a queriam assim pra sempre, seja porque não gostam do mau cheiro.
Você será mais uma dessas pessoas, talvez feliz, talvez triste. Por vezes feliz, por vezes triste. E, ao que me parece, o nosso objectivo é atingir a felicidade, de que maneira conseguiremos, bem, isso é outro problema e não tenho a solução para ele. Você crescerá e será feliz por grande parte de sua infância e juventude, começará a ter tristezas e anseios entre a juventude e a sua fase adulta, quando quererão que decida o que quer ser da vida e ainda por cima tentarão intervir, dizendo que não fará dinheiro o suficiente com tal profissão ou que merece algo melhor. Havia esquecido-me do dinheiro, logo do dinheiro. Dinheiro é algo que muita gente venera, mas que, basicamente, não passa de papel colorido. Você será depois um adulto, terá de casar-se. Casamento é a união com alguém do outro sexo - ou até do seu próprio sexo, depende só da constituição de seu país - e se baseia no amor. Não, não tentarei explicar o amor. Durante o casamento poderá ter filhos, eu os retomarei mais adiante. Você envelhecerá ainda mais, deixará sua carreira e, por fim, morrerá.
Filhos são os descendentes de alguém, gerados por cópula ou fecundação. Fecundação trata-se de quando o gâmeta masculino se encontra com o feminino e eles originam o zigoto, que crescerá até tornar-se essa sua criança. E essa sua criança também será colocada aqui, e eu também direi a ela coisas como essas. Mas, antes de tudo, seja bem vindo ao mundo. Ah, e boa sorte, precisará.

Boas vindas.

Boa noite e bem vindo, esperamos que sua viagem tenha sido tranquila e faremos de tudo para que você aproveite sua estadia. De tudo mesmo.
Aqui o que importa é se divertir, de verdade, divirta-se como bem entender. Não há problema se quebrar alguma coisa, não ligue para isso. Você pode se entreter como bem entender, nossa recomendação é que beba muito e use muitas drogas, assim você será bem visto pelos outros. Divirta-se, farreie, fique com todos e todas, é divertido. Seja diferente como todos - exatamente como todos. O que dissermos para fazer, faça, não perca seu tempo pensando em que fazer, nós lhe diremos. Você pode ser o que quiser, quando nós quisermos. Socialize, seja um de nós ou seja rejeitado. Ame hoje, esqueça amanhã. Ame hoje, traia hoje. Ame quando quiser, o amor é só uma palavra. Minta, roube, beba, fume, mate, não pense. Divirta-se, não se preocupe com nossa administração. Divirta-se, não se preocupe com o amanhã. Divirta-se, não se preocupe.
Lhe dou as boas vindas à contemporaneidade.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Conto de fadas.

Era uma vez,
um príncipe e uma princesa.
(Na verdade, eram três.)

Elas não sabiam das outras,
com certeza.
E ele vivia a iludi-las.

Tratava cada uma como se fosse a única de sua vida.
E quando trocava os nomes, passava despercebido.

Foi as enganando até onde conseguiu,
seguindo com o conto de fadas.

Até que descobriu a primeira,
que contou para a segunda,
e deixou saber a terceira.

E foi assim que acabou,
o seu conto de farsas.

Conto de fadas.

Todos que dizem que hoje não há conto de fadas
Não sabem o que estão a dizer.

Um conto de fadas pode hoje ser facilmente encontrado
Basta os juvenis corações você ler.

Mas se não for tolo como as infantis princesas
Minha mensagem logo irá entender.

Bem, para ser um heroico cavaleiro é fácil
Finja ser um deles, ela irá se derreter.

Lhe juro que as princesas amar-lhe-ão de volta
Se quiser também pode esse amor viver.

Realmente, hoje há sim conto de fadas
Há sim felicidade, é só querer.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Cavaleiro e a Princesa.

Era uma vez... se bem que essa não foi a única vez que isso aconteceu no mundo, mas ignoremos, esse deveria ser um desses contos lindos e fabulosos onde todos são felizes, mas não é, e conforme eu vá contando-lhes a estória, entenderão o porquê.
Eles viviam em um lugar qualquer, mas pode imaginar uma campina com campos verdejantes e algumas flores rasteiras se quiser. Um castelo, sim, um castelo. Ela vivia num castelo, aos olhos de alguém aquilo era um castelo, aos olhos dele, já que ele a via como Princesa. E ele era um Cavaleiro para si, era um grande Cavaleiro e haveria de ser Príncipe, depois do casamento, o casamento. Ele sonhava em casar com ela, ele poderia e merecia casar com ela, ele a valorizava, ele a amava, ele satisfazia todos caprichos dela, ele a amava.
Mas ela não pretendia nem sonhava em casar com ele. Ela não pretendia casar. Sim, a Princesa deixaria o trono vazio após sua morte, mas deixemos estar. Mesmo sem casar ela tinha casos, ela gostava de homens malvados, que não a amavam de volta e que não a valorizavam tanto quanto o cavalheiro Cavaleiro. Ela gostava era de, sem o perdão da palavra, porque essa é uma história crua e cruel, de homens canalhas. Canalhas mesmo, daqueles que falavam mal dela na cara, que admiravam no máximo seu corpo, e só, sem sentimento nem nada, apenas algo carnal.
E ninguém viveu feliz em ocasião nenhuma.

O Cavaleiro e a Princesa.

- Como ela é linda. Quem é? - Perguntou o jovem cavaleiro.
- Ah, ela? É a princesa Névoa. Mas não se engane por sua beleza, ela é uma pessoa muito fria que não se importa com ninguém. - Respondeu o pintor que trazia o quadro da princesa.
- Fria? Impossível! Ela tem um sorriso lindo, mas parece tão triste. Diga-me de que reino vem a princesa?
- De bem longe, meu caro, do reino de Restinga. Aceite um conselho, não perca seu tempo com ela. Ela mora tão longe, e não irá te fazer bem. Todos que se apaixonam por ela acabam feridos. E você bem sabe que não há armadura de aço que te proteja de um golpe do amor. Esse quadro, por exemplo, foi encomendado pelo príncipe. Ele está louco de amor, deseja tê-la a qualquer custo, mas ela o recusa. - Explicava enquanto mostrava a tela ao cavaleiro.
- Essa pele tão ebúrnea, esses cabelos tão rubros. Não acredito nisso. Não. Mandarei o mensageiro lhe entregar uma carta, preciso falar com ela, ela não pode ser como você diz! - Exclamou ao sair do castelo.


Escreveu uma carta sem assinatura mas repleta de amores, e a entregou ao mensageiro.
- Quero que mande essa carta no primeiro pombo que vá para Restinga! - Pediu o apaixonado cavaleiro.
A pomba bateu asas e foi entregar as palavras de amor para uma princesa gelada.


Na semana seguinte a pomba voltava para a torre do mensageiro. Ao avistar a ave o cavaleiro correu ansioso para ver se tinha recebido uma resposta.
"Para o cavaleiro sem nome." era assim que começava a carta. Ela dizia como era triste, como odiava seu reino e que precisava de alguém para salvá-la. Mas ninguém via isso, achavam que só porque ela sorria a toda hora ela era feliz; que por ser uma princesa devia ser falsa. Ela estava sempre sozinha, não tinha ninguém. E só precisava disso, de um abraço, de alguém para fazer com que se sentisse viva. "De sua princesa Névoa." ela terminava.
O coração do cavaleiro batia tão forte que quase rasgava seu gibão. Ele se decidira, iria à Restinga para ver a princesa. Não importando o que dissessem.
Escreveu uma carta avisando seus planos e partiu assim que a pomba mergulhou no horizonte, comprara a pomba com as moedas de ouro que lhe restavam, para que pudesse falar com ela enquanto não chegava até lá, pois a viagem era longa e árdua.
"Você não conseguirá. Deixe de loucura. Ela não merece isso. É só uma garota. Você ainda é fraco para tal viagem." Disseram-lhe, mas ele precisava fazer isso, ele via a dor no sorriso da princesa, era tão forte, tão triste e, também, tão conhecida por ele.


Os dias passavam. Semanas. E o cavaleiro continuava sua jornada. A única companhia que tinha era a das doces palavras da princesa que recebia a cada três ou dois dias. Ela mal podia esperar por sua chegada. Ele mal podia esperar para ver seu sorriso. "Eu não posso te ver, mas me diga seu nome, nobre cavaleiro." Ela sempre dizia isso. Sempre desejava vê-lo, mas teria de aguardar até o encontro. "Não entendo por que sua curiosidade, já lhe disse que decepcionar-se-á. Não sou o que chamam de belo." ele respondia. Mas ela insistia "A Beleza está nos olhos de quem vê, e por isso eu preciso vê-lo."
Depois de mais algumas cartas e mais algum amor ele mandou a última : "Estou chegando aí. Finalmente me verá. Tem certeza de que realmente quer isso?" "É o que mais quero." Foi a resposta.


O Cavaleiro enfim chegou. Todos desejavam ver quem ele era por trás daquele elmo prateado. Todos queriam ver o rosto daquele que fez a Princesa feliz. A Princesa se aproximou lentamente. Com as mãos no elmo, ele preparava-se para se mostrar a sua amada. Mas ela o parou.
- Mas, Princesa, você não quer me ver?
- Eu já o vi. - Respondeu com um sorriso terno.
- Quando? Como?
Pousando sua mão no peito esquerdo do Cavaleiro ela disse. "Eu já te vi. Vi bem aqui. E é lindo."
E se perderam num abraço eterno.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sensatez.

Amar-te é lógico,
É simples, é óbvio.
Olhar-te é amar-te.
Ver-te é enamorar-se.

És completamente perfeita,
Tão regrada e direita.
Querer-te é sensato
És linda, de facto.

Mesmo assim não te amaria
Sou diferente, todo mundo já sabia.
Preferiria algo não tão comum
Algo que não me levaria a lugar nenhum.

Eu nunca quis ser normal
Seguir métrica, rimas, coisa e tal.
Mas sou agora tão prudente
Viverei ao seu lado tão contente.

Prometi nunca ser amigo da sensatez
Mudarei só dessa única vez.
Opto finalmente pela razão.
Cala pra sempre, coração.

Sensatez.

Seria sensato,
viver sem você?

Ou estaria eu senil
e ficaria sem felicidade?

É prova de sensatez,
agir sem sentimentos?

Sempre me senti só.
Só sempre senti dôr.

Sensato, insensato.
Sem tato.
Sem amor.

Sem vencer,
sem você,
sempre são.
Sempre só.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Acidente de carro,

Nós estávamos a uma velocidade incrível, eu sentia algo parecido com estar vivo pela primeira vez.


Em minha própria vida eu sempre fora apenas mais um. Passei-a por todo o tempo na calçada, apenas vendo todos correndo por aí, vendo-os tão alegres a acelerar, a viver tão intensamente.


Nós iríamos bater a qualquer momento, a morte era iminente, eu bem sei. A qualquer momento nos chocaríamos com algum obstáculo e, pronto, como passe de mágica nada mais de nós existiria.


Mas um dia você chegou, lentamente, mas eu a notei, não haveria como não notar. Todos queriam ser lindos como carros esportivos, mas você não, você só se preocupava em ser você, era singular feito uma kombi hippie.


Nós estávamos à beira de uma possível morte, e eu me importava? Sentir-me quase-vivo era bem mais que toda minha vida havia proporcionado-me até hoje, morrer ao seu lado era uma maneira tão celestial de se morrer.


Acabamos nos conhecendo tão bem, tendo tanta cumplicidade. Quando fui ver já estava ao seu lado, e você vivia aceleradamente. Você vivia intensamente, por mais que não parecesse.


Nós atingimos aquele caminhão de dez toneladas e devo admitir, morrer ao seu lado foi um prazer, o privilégio foi todo meu.


Depois do acidente não me lembro de muita coisa, mas de antes lembro-me menos ainda. Eu estava morto antes ainda do carro bater.

Acidente de carro.

As luzes vermelha e azul piscavam ininterruptamente; as sirenes ensurdeciam; pessoas se reuniam.
"Para trás, não há nada para se ver aqui!" Gritavam os policiais enquanto isolavam o perímetro. Todos tentavam ver o que tinha acontecido, saiam de seus carros, pois a rua tinha sido bloqueada, juntavam-se ao aglomerado, subiam nas pontas de seus pés e ficavam chocados com a cena.
Não descreverei o que as pessoas viam, acidente de carro é sempre igual, carros e pessoas jogadas. Imagino que vocês não são do tipo que ficam curiosas para ver a cena, ver a tragédia, espero que vocês sejam melhor que isso.
Continuando com minha história, eu, infelizmente estava preso no trânsito que se formou com o infeliz acidente. Estava bem próximo, na verdade, vi o acidente acontecendo, coisa bem infeliz.
"Nossa, cara, fiquei sabendo que o carro azul capotou umas três vezes, o passageiro até saiu pelo parabrisas, foi coisa feia." Disse um dos espectadores animado.
"Caracas! Me disseram que o vermelho tentou desviar do azul e bateu num poste, derrapou e acabou na mureta." Respondeu um que estava do lado.
"E o do carro prata, caras, parece que tava bêbado, tava correndo, bateu no azul e começou tudo, foda, foda." Completou mais uma das pessoas que assistiam ao acidente como quem vê o final da novela.
Eu não podia acreditar naquilo que via, tudo o que disseram podia ser verdade, podia ser invenção, mas eram irrelevâncias, eles não precisavam saber disso, precisavam saber que houve um acidente e deveriam usar um caminho alternativo, deviam saber como evitar esse tipo de tragédia, mas não, queriam saber quem brigou com quem, quem girou mais, quem ganhou mais pontos de audiência.
"Eu fiquei sabendo que a família deles ficará arrasada ao receber a notícia, provavelmente chorarão, sofrerão muito. Afinal, eles tinham uma vida inteira pela frente, já tinham conquistado algo, eram jovens para ir embora. Será difícil pra eles, afinal eles eram humanos." Eu disse antes de deixar meu carro abandonado.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sobre guarda-chuvas.

A chuva chovia chuvisco.
As gotas caíam frias na minha pele,
A chuva chove, encharca.

Eu estou sozinho, no meio da torrente.
Chuva, choro.
Estou sozinho na enchente.

Chateado, choro uma chuva.
Chocado, chove meu choro.

A chuva enche as ruas,
até que eu acho uma chama.
No meio da chuva, da escuridão,
alguém me ergue a mão,
que segura um guarda-chuva.

"Shhhh, não chore"
Ela me diz.

Chhhhh, ainda chove.
Mas eu não me molho,
porque ela me protege,
sob seu guarda-chuva.

E com ela eu espero,
pelo raiar do sol,
com ela eu aguento,
todo o mal.

Sobre guarda-chuvas.

Noutro dia estava a chover deveras
Era uma dessas tardes tão paulistanas.
E eu, a ver tantos guarda-chuvas
Comecei a pensar sobre tudo isso,
Cada gota que caía era um pensamento que surgia.

Aqueles objetos, tão simples
Com uma direta haste e uma triste tela
Parecem proteger as pessoas das vidas delas.
Mesmas pessoas que, sem eles estariam tão tristes,
Sob sua proteção são outras.

Queria eu ter uma proteção assim para todas as más coisas.
Façam-me guarda-sofrimentos, guarda-dores
Guarda-tristezas e guarda-corações-partidos.
E deixem que sobre mim chova alegria, que caiam os amores,
Que sempre ao meu lado fiquem meus queridos.