sexta-feira, 6 de maio de 2011

Acidente de carro,

Nós estávamos a uma velocidade incrível, eu sentia algo parecido com estar vivo pela primeira vez.


Em minha própria vida eu sempre fora apenas mais um. Passei-a por todo o tempo na calçada, apenas vendo todos correndo por aí, vendo-os tão alegres a acelerar, a viver tão intensamente.


Nós iríamos bater a qualquer momento, a morte era iminente, eu bem sei. A qualquer momento nos chocaríamos com algum obstáculo e, pronto, como passe de mágica nada mais de nós existiria.


Mas um dia você chegou, lentamente, mas eu a notei, não haveria como não notar. Todos queriam ser lindos como carros esportivos, mas você não, você só se preocupava em ser você, era singular feito uma kombi hippie.


Nós estávamos à beira de uma possível morte, e eu me importava? Sentir-me quase-vivo era bem mais que toda minha vida havia proporcionado-me até hoje, morrer ao seu lado era uma maneira tão celestial de se morrer.


Acabamos nos conhecendo tão bem, tendo tanta cumplicidade. Quando fui ver já estava ao seu lado, e você vivia aceleradamente. Você vivia intensamente, por mais que não parecesse.


Nós atingimos aquele caminhão de dez toneladas e devo admitir, morrer ao seu lado foi um prazer, o privilégio foi todo meu.


Depois do acidente não me lembro de muita coisa, mas de antes lembro-me menos ainda. Eu estava morto antes ainda do carro bater.

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