sexta-feira, 3 de junho de 2011

Greve.

A multidão enfurecida se aglomerava em frente da estação. Os portões fechados traziam faixas dizendo que o trem não funcionaria naquele dia. "Estamos em greve".
Eles gritavam, rugiam, mas ninguém dava uma explicação, ninguém estava disposto a agir. Todos só se inflamavam mais e mais. Gritavam, rugiam, quebravam os vidros, o caos estava tomando conta.
Um funcionário, então, apareceu do lado de dentro da estação, protegido pelos portões e correntes.
"Parem logo com essa greve!", "Todos estamos sendo prejudicados", a multidão dizia.
- Bem, nós só queremos um aumento, não é muito, só queremos mais dinheiro e, assim, ninguém sairá prejudicado. Vocês poderão ir ao trabalho tranquilamente e a sociedade continuará nos seus eixos.
Ninguém queria ouvir ninguém, afinal, os dois lados estavam errados e os dois estavam certos, dependendo de que lado você estivesse. A greve não tinha hora para acabar, assim como os civis não pretendiam ir embora. Até que um deles, de repente, como se por uma epifania, parou e sentou-se. Calmamente sentou-se. Os primeiros perceberam como ele destoava do grupo e o questionaram sobre.
"O que você está fazendo?", "Você está bem?" Perguntaram.
- Eu estou em greve. Foi a resposta.
"Greve?!" "Como assim?"
- Estou em greve, não amarei mais.
Eles pararam, ponderaram, e se sentaram.
Enquanto isso, um por um, ao perguntar e receber a resposta do porquê de estarem sentados, sentavam-se também e não falavam nada. Só olhavam para o vazio e o infinito. Até que não sobrou um contra-greve sequer.
Os grevistas perceberam que o caos parara e foram verificar o que aconteceu.
À primeira vista foram cautelosos e tentaram falar com as pessoas que estavam sentadas, mas não receberam nenhuma resposta. Eles saíram e indagaram ao jovem que estava sentado no centro de todos.
- Estou em greve.
- Em greve? Mas nós estamos em greve. Disse um dos grevistas.
- Sim, estão, ninguém poderá trabalhar por vossa culpa. Mas eu estou em greve de amor, não amarei mais.
- Não amará?
- Sim, eu e todos os outros que estamos sentados aqui.
O grevista parou e olhou para a multidão vazia, cheia de falta de amor. Disse para um colega.
- E como continuar vivendo com uma greve dessas?
E sentou-se.

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