sexta-feira, 17 de junho de 2011

Trilhos.

Ela entrou na estação que dava início a toda a linha, ou na estação que findava a mesma linha, conforme sua visão. Comprou sua passagem para o trem que logo partiria, "Uma provável passagem para uma vida nova." pensou.
Dirigiu-se às catracas, e quando passou sentiu que não deixava somente o lado de fora da estação, deixava uma vida inteira para trás. Erros, fracassos, sentimentos que jamais deveriam ter aflorado. Ela tomaria um novo sentido. Ela finalmente faria sentido.
Ficou a pensar na plataforma sobre o que seria aquela nova vida. Trilharia um novo caminho, estava bem certa disso. Não estava certa de que caminho era esse, apenas estava certa de que ele diferia de qualquer outro no qual caminhara por toda sua vida.
Entrou no trem.
Tomou um lugar ao lado da janela. Tomaria vento, veria tudo. Adorava lugares à janela, considerava-os ideais para alguém observador como ela.
Abriu seu livro. Algo semi-intelectual, uma literatura daquela que os jovens leem justamente para não compreender.
Fechou seu livro. Já havia o lido por três quartos de hora, o suficiente para enevoar a mente. Haveria de achar alguma outra coisa para fazer sobre aqueles tediosos trilhos. Queria algo que não encontrava em si.
Uma moça trouxe-lhe em um daqueles carrinhos algo para beber. Ela recusou. Ironicamente, agora não queria nada.
Passou-se mais um quarto de hora. Resolveu contrariar-se mais uma vez ao dirigir-se ao vagão onde eram dadas as refeições. Sim, voltara a querer algo. Ela era assim, apenas uma jovem, uma constante contradição.
Sentou-se a uma mesa qualquer. Pediu um prato que não importa junto de uma bebida ainda menos importante. Levou à boca o primeiro pedaço daquela refeição, parecia frio mas não estava, era apenas sua sensação.
Levantou os olhos, cansara-se da comida medíocre. A primeira coisa que avistou foi a última que deveria lá estar. Ela sentiu tudo aquilo de novo. E de novo.
Descarrilou.

Trilhos.

Sempre seguindo os trilhos, eu viajava para o meu destino pré-programado. Os trilhos mostravam por onde eu devia andar, que rumo tomar. E eu o seguia, seguia pelo horizonte afora. E a vida era simples e fácil assim. Sem pressa e sem grandes emoções eu era levado pelos trilhos.
Até que um dia, o caminho me deu duas opções e eu não pude simplesmente me deixar guiar, eu tinha de escolher. Na bifurcação entre a emoção e a felicidade o trem descarrilhou, eu não consegui escolher e não seguir nem pra lá nem pra cá. Apavorado, tomado pelo pânico. Eu sempre segui os trilhos, o que eu faria agora? Eu iria morrer, com certeza, mas eu continuava a correr, cada vez mais rápido. Admito que tentei parar, puxei os freios de segurança, mas de nada adiantou. Talvez eu não tivesse a intenção de parar, talvez fosse algo inconsciente me dizendo pra seguir em frente.
Eu perdi os trilhos, eu me perdi. Estava sem rumo, seguindo em frente já não sei mais pra onde. Sem destino. Eu descarrilhei, tinha medo, estava ansioso, nervoso. Era tudo novo, tudo diferente. Eu não conseguia - ou não queria? - parar, e cada vez mais rápido eu seguia para lugar nenhum. Dos trilhos eu saí, eu já não precisava mais deles quando percebi para onde ia.
Eu descarrilhei? É impossível dizer isso. Eu não perdi o meu rumo, entre a felicidade e a emoção eu segui até você. Eu não descarrilhei, eu segui os trilhos do meu coração.