sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dois amigos.

- E aí, o que vamos assistir, idiota? - Ela disse enquanto paravam na frente do cinema.
- Ah... Não sei, deixa eu ver o que tá em cartaz. - Respondeu o garoto enquanto analisava os filmes na bilheteria.
- Eu queria ver o filme hoje, sabe? - Disse em tom de deboche e deu um soco no ombro do rapaz.
- Haha, como você é engraçada. Por que não ajuda a escolher então, já que tem tanta pressa? - Ele falou apontando para os filmes.
- Claro, claro, eu tenho que decidir tudo pra você . Bom... Não me abandone jamais?
- Quê? Nunca ouvi falar, próximo.
- Piratas do Caribe! Piratas do Caribe, por favooor. - Pediu fazendo bico.
- Credo, nem implorando.
- Chato. Meia-noite em Paris? Ah, não, parece ruim.
- Parece bom. - Disse sorrindo.
- Ruim. Se beber não case 2, eu ri bastante do primeiro.
- Eu nem vi o primeiro.
- Assim você dificulta, sabe?
- Sei sim, é como eu me divirto.
- Já achei. Esse é a sua cara. Carros 2.
- Carros 2! Animação. Diversão!
- Ok, ok. - E virando-se para o bilheteiro que esperava pela decisão dos amigos pediu dois ingressos para o filme.

- Odeio trailers. - Ela disse soprando sua franja como se entediada.
- Odeio sair contigo. - Ele disse tomando sua Coca.
- Então não saia, ninguém te obrigou a aceitar. - Respondeu pegando a Coca da mão dele.
- Calma, besta. Era brincadeira. - Estava nervoso, ansioso. - cê sabe que eu curto sair contigo, você é uma das minhas melhores amigas.
- É, e você é o um dos meus melhores, eu também tava brincando... - Ela notava seu nervosismo, sempre notava. - Relaxa.
- Ok... É só que... cê sabe. - Era apaixonado por sua amiga. Perdidamente. Eternamente. E isso era horrível, mas não podia evitar. - Deixa pra lá.
- Argh, pare com isso. - Ela se inclinou para frente. Ele se assustou.
Ela se aproximava devagar, seus olhos de encontro aos dele, que estavam arregalados. A respiração forte, o coração rápido. O mundo começou a girar cada vez mais lentamente. Ele não tinha reacção. Mas ela sabia o que estava fazendo, como sempre.
Tocaram-se. Seus lábios colados, quentes. Ela era macia, doce, e quente, sempre quente. Ele era receoso, apaixonado, e quente, com ela. Ele fechou os olhos assim que o mundo parou. Ela começou a se afastar e então estalou seus lábios com o dele, olhou-o nos olhos, sorriu, sentou-se no seu lugar.
- Eu sei que você queria isso... desde...
- Sempre? - Ele sugeriu enrubescido.
- É, tipo desde sempre. - Ela concordou meneando a cabeça. - Enfim, desde sempre. E, sei lá, você é meu amigo, amigos querem ver os outros felizes... Mas eu estou com outrem agora, cê sabe. E você é meu amigo, só meu amigo. Espero que entenda. - Terminou colocando as últimas palavras cuidadosamente na frente do rapaz. Procurando não derrubar a pilha de sentimentos que ele tinha de equilibrar quando estava com ela.
- Sim, eu entendo. - E ele realmente entendia, estava leve como uma pluma que alçara voo com um sopro de vento quente de uma tarde de verão. - Eu entendo, você é minha amiga, somos amigos, só amigos. Aham. Você é tipo, minha melhor amiga, cê é incrível, boba. - Sorriu e virou-se para o telão. - O filme já vai começar.

E assistiram ao filme, riram, brincaram, divertiram-se. Eram dois amigos. Dois verdadeiros amigos. Apaixonados pela amizade um do outro. Renovando e descobrindo o que é a amizade.

Dois amigos.

Era uma vez um garoto, sua vida não era um faz-de-conta, longe disso. Sua vida não era doce e brilhante, sua vida era triste, cinzenta.
Esse garoto tinha diversos amigos, ou melhor, diversas pessoas que lhe chamavam de amigo, pois para ele não passavam de colegas.
Haviam colegas de escola, aqueles que sequer ligavam para ele em nove de cada dez casos, e o décimo caso configurava uma véspera de prova de uma matéria que o garoto dominava com mestria. Ele jurava que pararia de falar com eles, que a qualquer hora perderia a paciência e diria o quanto os repudiava.
Haviam os colegas de trabalho, aqueles que sequer ligavam para ele na maioria dos casos, e só interagiam com ele quando era realmente necessário. Estes ele respeitava, ao menos não fingiam gostar dele.
Haviam alguns amigos - ou coisa parecida -, aqueles que gostavam dele, que andavam com ele não apenas por interesses. Destes ele gostava, os respeitava, mas sabia que não tinha algo verdadeiro quando percebia que nada sabia sobre eles e eles nada sobre ele.
Haviam os amigos sazonais, aqueles que surgem de repente, formavam um forte vínculo com ele e iam embora. Destes ele também gostava, mas conseguia viver sem eles após a partida.
Havia por fim uma amiga isolada, aquela que era tudo para ele, aquela por quem ele morreria, ela sabia tudo sobre ele e ele tudo sobre ela. Ele a amava, ela também o amava mas, diferentemente dele, ela tinha outros amigos verdadeiros e costumava deixá-lo de lado. Nesse caso ele acabava sem ninguém, ou com amigos falsos, o que é ainda pior, e esperava conhecer alguém novo, não eram necessários milhões, mas pelo menos dois amigos verdadeiros.