sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

É assim que se diz adeus.

Adeus,
simplesmente assim, tão fácil.
Mas eu não pude, eu não consegui,

Eu disse 
"adeus"
sorri e lhe beijei, para te ver no dia seguinte,

Escolhi subverter, 
mudei o mundo todo pra não te esquecer.
Adeus.

Adeus,
que diferença faz agora?
Se ver-nos-emos, logo, quando for embora.

Mas você sempre dá um jeito, querida,
e se a palavra não basta, nos seus olhos eu vi o 
adeus.

E agora você se despediu, deu seu
adeus,
e me deixou, mas pra mim ainda estás aqui.

Mas um dia eu juro que me desfaço,
e te um poema eu te faço,
que comece e termine com
adeus.

É assim que se diz adeus.

Talvez seja o momento de ponderar,
Todos ponderam ao final do ano,
Acredito que seja o momento de ponderar.

Bem, quantos amores nasceram nesse ano?
E quantos morreram?
Ainda mais, meu amigo,
Quantos duraram esse ano?
Sim, talvez essa seja a parte mais importante,
Quantos amores frágeis temos amado,
Impacientes, egoístas, incoerentes,
Amores mensais, semanais, diários,
Que amar por um ano talvez seja um exagero
(Imagina só amar por cinco).

É certo, regrar o amor é ainda mais absurdo que todos amores irresponsáveis,
Mas, bem, por vezes temos abusado.
E agora, tão perto do fim, que faremos?
Pensa na garota que amou por só um segundo,
Valeu a pena?
E não me venha desviar-se do assunto a citar Fernando Pessoa,
Eu sei que citá-lo-á a qualquer momento,
A deixa que lhe dei é demasiadamente boa.

Se valeu, o dia em que a amou valeu,
E, se esse dia foi bom, a semana igualmente,
Consequentemente, a semana desse dia salvou o mês,
E esse mês há-de ter sido o mês que fez desse ano um ano bom.
E, convenhamos, um bom ano é mais que suficiente na vida que vivemos.
Tão fria.

Muito embora o nosso fim de ano não seja frio,
Construíram essa imagem, impuseram essa imagem,
Aceitamos.
Precisamos de um incêndio, eu acho.
O amor congelou, parou no tempo.
A alegria, os sonhos e as esperanças também.
Eu entendo, incêndios são coisa má,
Eu entendo, tais coisas não devem ser defendidas,
Mas precisamos.

Precisa-se de sonhos,
Ou melhor, sonhadores.
Acordar? Coisa de louco.
Pense, meu amigo, em quanto perdemos vivendo,
Enquanto vivemos, tanto perdemos,
Trabalhar? Pagar contas? Preocupar-se?
Eu preciso manter-me em paz, em casa,
Preciso de literatura, preciso de arte,
Preciso de amor e de sonhos.

É, meu amigo, tente ignorá-los.
Voltemos ao nosso fim.
Primeiro de tudo, mantenha a calma,
Não entre em pânico,
E, se preciso, corra.

Mas enquanto o fim não vem,
Por que não falamos do que aconteceu?
É, agora você queria voltar atrás e aceitar aquela proposta,
Você não queria ter passado tanto tempo naquele escritório,
Você preferiria ter se arriscado,
Passado mais tempo comigo e com os outros,
E, sobretudo, com ela.

Como as coisas seriam melhores, meu amigo,
Se apenas tivéssemos acreditado no que disseram:
Jesus há-de vir salvar-nos.
Nesse momento estaríamos despreocupados,
Não haveria como dar errado.

E hoje, cá estamos, dando risada de tudo,
Embora no fundo tenhamos mais medo que os outros,
Sabemos que não merecemos um final feliz,
Da mesma maneira como não mereceu um cachorrinho quando tinha sete anos,
Se lembra?
Ninguém mandou brigar com sua irmã.

Se bem que, pensemos bem, quem inventou essas regras?
Por deus, preste atenção.
De onde vem toda essa razão?
E de onde essa matriz tirou essa razão?
Somos apenas um monte de poeira estelar completamente despropositado,
Um umidificador de ar tem mais sentido que nós dois.

O problema apenas é que dessa vez o cachorrinho é a salvação.

Salvação? Perdição?
Espera um pouco,
Tudo isso é tão despropositado quanto nós,
O vencedor, o perdedor.
Não, isso também não me satisfaz.
Belo, feio.
Chega disso, estou exausto.

Exausto de quê?
Bem, sabe,
Disso, de tudo isso.
Sim, mas eu não vou parar.
Por que você não continua?

Olha, esse poema pode acabar por ser muito bom
Ou muito ruim.
O risco de ser muito ruim me assusta,
Talvez fosse melhor apagá-lo todo agora.
Mas o risco de ele ser muito bom atrai-me ainda mais.
Os críticos que decidam.

Os críticos literários.
Pessoas (mal) pagas para ver o que não existe,
Para ler palavras que não foram escritas,
Evidenciar sentimentos não sentidos,
Ouvir rimas nunca recitadas.
Os críticos literários fazem mais sentido que nós dois.

É, não faço ideia de que destino temos,
Só parece não ser coisa muito boa.
Eu não quero meu destino.
Destino.
Eu odeio essa palavra,
Prefiro o som do nome dela.

Mas, bem, vim aqui para dizer-lhe apenas uma coisa, amigo meu,
É chegada a hora,
Adeus.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

aMor

Meu deus, já não cansaraM de Me ouvir falar isso? taMbéM cansa-Me escrever poeMas tão iMaturos. chega de leMbrar dos dias que passaMos juntos, das horas, dos Minutos, chega de leMbrar de Músicas que Me Mostrou. é Melhor parar de uMa só vez, é Melhor dizerMos até Mais, chega de pensar que é a única coMpanhia que Me serve. MesMo assiM, MesMo depois de Mais de ceM péssiMos poeMas, ainda Me pego a pensar eM você, e coMo odeio isso, Meu beM, odeio chaMá-la de Meu beM, odeio dedicar-lhe poeMas, odeio leMbrar de você nas horas Mais Melancólicas, odeio pensar que você é Minha Melhor MeMória, odeio esse texto. Mas, aciMa de tudo, ainda te aMo, Meu beM (Meu deus, que clichê, apagueM isso o quanto antes). siM, eu a aMo, é a vida, Mas não pense que é Maravilhosa, não pense ser Mais do que é, marina. é apenas Mais uM de Meus Múltiplos probleMas. Mas, Mais iMportante, só Me responda uMa coisa, Meu aMor, eu era taMbéM o seu aMor? é Melhor não Me responder.

aMor

O amor não importa, não faz diferença. O aMor é tudo, é a razão. Quem liga? A vida é mais do que isso, não é? A vida é amar? A vida é aMar. Há uma leve diferença, logo perceberão, uma leve diferença, um detalhe, uma rima, um jogo de palavras, eu quero que prestem a atenção.
O amor todos sentem, não me levem a mal, mas é auto-explicativo, apesar de não ter explicações. Já o aMor é algo único, que somente os poetas mais aguçados podem ver, o aMor é incrível, mas eles nos fazem crer.
As palavras, os versos, a métrica, tudo tem um bom motivo, o melhor, o aMor.
Acreditem em mim quando digo que nunca sentiram isso, acreditem em mim quando digo que tudo mudará a partir disso, mais cedo ou mais tarde, o aMor tomará o mundo, o aMor entrará para a história, buscando apenas acertar o coração dela.
O amor já passou, saturou, o amor não acabou, o sentimento permanece vivo, mas precisou de algo novo, um sopro completamente planejado, tanto em intensidade como em forma.

O amor importa, o amor faz diferença.
Sem amor, não há aMor.
Sem aMor, que há?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Avenida.

Você veio e eu dei passagem,
os sinais todos estavam verdes.
Abri pra você, todos os caminhos da minha vida,
e em troca, ganhei no coração uma avenida.

A Avenida.

Minha vida toda é uma avenida,
E, por deus, que trânsito.
Nessas ruas tão sombrias
Foi que a encontrei, perdida.

Não sabia para onde ia,
Nem eu sabia meu destino.
Mas andamos juntos
Até o acidente naquela noite fria.

Atravessávamos sem ligar para ninguém.
O problema é que exagerávamos,
Deveríamos olhar para os outros lados
E, nisso tudo, perdi meu bem.

Nessa avenida tão paulistana,
Consolação é apenas uma rua
E se foi ao paraíso, era apenas um bairro.
Mas ainda guardo uma vila só para você.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Súcubo e o Serafim.

A noite cai nos céus, já é noite e ele vai deitar-se. Pensa sobre as coisas que deveria ter feito, pensa no que deve fazer no dia seguinte, é responsável. Pensa sobre coisas diversas, teorias de travesseiro e coisas similares, nada de extraordinário ou importante, ao menos para o mundo. Serafim enfim adormece.
Lá está ela, ela deitada sob ele, ela se entrega, ela é dele, ela é possuída, ela e ele, nada mais, o amor é puro. Mas ele perde tanto, agora é ela a tomar-lhe a vida, ele só faz pensar nela, ela só faz doer seu coração, ela lhe tira toda a atenção, não pensa em mais nada e ela não pensa nele, por que o amor há de ser assim, pecaminoso e ladrão das atenções?
Ou talvez não. Ele talvez não seja o herói que todos pensamos, apenas porque ele a ama ele a merece? Por Deus, e o que ele fez por ela alguma vez? Sim, ele deve respeitá-la, mas não precisa ser apenas um anjinho, tão sem graça e branco como a neve. A vida é mais divertida quando colorida. Ele precisa pintar, ele precisa alegrá-la e, porque não, sujá-la. Às vezes é necessário ser sujo sim, Serafim.
E ela, meu amigo, ela não é o pecado, ela é apenas o amor, há quem confunda os dois. Não, ela não precisa ficar necessariamente embaixo, dê-lhe a opção, ela pode sim ascender, ela é também digna disso. O fato de ela divertir-se não faz dela uma desvairada. Não, nada disso, apenas deixe-a ser assim, Serafim.

A Súcubo e o Serafim.

Personagens -

A súcubo - uma Súcubo do Inferno;
O serafim - Um Serafim do Paraíso;
Deus - O todo poderoso.

Cena -
Um lugar deserto, sem chão, sem céu, apenas o nada. O vazio da existência.

A SÚCUBO, olhando à sua volta
Onde estou?

O SERAFIM
Tu não estás em lugar algum, tu apenas estás.

A SÚCUBO, virando-se
Quem sois vós? Que queres dizer com apenas estou? Explique-te agora, não sabes com quem está lidando.

O SERAFIM
Uma Súcubo, em verdade, há tempos não via uma, ainda mais aqui, estás no Purgatório, pobre criatura, e o Purgatório não é um lugar, é um estado, uma condição de existência. Espanta-me que tenha chegado tão longe, afinal, és um demônio.

A SÚCUBO
Como sabes tudo isso?

O SERAFIM
Bom... Além de minha sabedoria inata, do meu conhecimento do que é sagrado, do sacrilégio e todo o resto, devo admitir que sou habituado com esse lugar. Sou mandado aqui de vez em quando para julgarem se devo permanecer no Paraíso.

A SÚCUBO
Um anjo... tens seis asas, sempre achei que anjos tivessem apenas duas como nós, mas afinal, sempre voltas ao Paraíso? E por que eu vim para cá dessa vez?

O SERAFIM
Sou um Serafim, da ordem os anjos mais próximos a Deus, não sou um mero anjo, por isso tenho seis asas, e por isso sempre volto ao Paraíso. Afinal, sou um anjo, és um demônio, não importa o que viestes fazer, voltará ao Inferno.

A SÚCUBO
M-mas, eu não mereço, nunca fiz nada de errado, nunca tive más intenções, são os outros que fazem o que é errado, eu apenas estou lá, eu mereço o Paraíso!

O SERAFIM
E eu, ao contrário, corro das coisas boas, o que é certo me dá asco, faço o que quero, quem liga? Mereço o Inferno, apesar disso, voltarei ao Paraíso, imagino até que estou aqui contigo para que aprendas algo, quem sabe, uma aparição de um anjo só pode ser uma benção. A aparição de uma Súcubo é mau presságio, é pecaminoso, entenda isso.

A SÚCUBO
Eu nunca, jamais quis fazer algo errado, mas os homens sempre me viam, me olhavam, com aqueles olhos, aquele olhar grotesco, eles faziam tudo, eu ficava quieta e aguentava, eles ficavam felizes no final... Eu queria poder fazer as pessoas felizes, mesmo que a esse preço.

O SERAFIM
E eu, ao contrário, apareço aos homens e lhes digo loucuras, mas minha aura, meu halo, todos acreditam cegamente, eles faziam o que eu dizia, sofriam e acreditavam ser o caminho do Senhor. Aqui, olhes para mim e para tu, vejas como somos iguais.
Desenrola as asas de seu corpo.

A SÚCUBO Se olhando e depois olhando o Serafim

Estamos ambos nus, mas...  somos diferentes, teu corpo... ele passa, pureza, ele é belo, ele é casto, eu... sou uma puta.

O SERAFIM
Succuba, em latim, prostituta. Não importa o que faça, será sempre uma Súcubo, eu sempre serei um Serafim - um ser nobre.

A SÚCUBO
Não! Eu vim para por algum motivo, eu tenho uma chance, eu sei que tenho, afinal, um Serafim apareceu para mim, mesmo que seja tu.

O SERAFIM
Sim, e tentas me seduzir, queres que eu peque. Eu, ao contrário, quero te guiar, iluminar-te. Não importa o que aconteça.
Aproxima-se da Súcubo, toma-a nos braços e a beija.

A SÚCUBO afastando-o

Pare agora! Não se atreva! O que dirás agora? Tentas me purificar? Levo-te por caminhos pecaminosos? Não, não mais.

Gritos de lamentação são ouvidos

A SÚCUBO

O que é isso? Quem são?

O SERAFIM
Ah, parece que chegaram a um veredito, as almas agora sofrerão o purgatorio ignis, se merecerem, queimarão seus pecados e vão ao Paraíso, se merecerem, queimarão no Inferno. Como és de lá, não sentirá nada novo, já eu estou imune por a serpente ardente de Deus, estamos salvos da salvação, querida. Apenas voltaremos de onde não deveríamos sair.

Uma luz cegante se alastra, quando os dois abrem os olhos, ainda estão no Purgatório

A VOZ DE DEUS

Eis vossa salvação e danação eterna.


As cortinas se fecham

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ele observa estrelas.

Ela observava pessoas.
Ele observava estrelas.

Ela falava sobre política e jornais.
Ele falava sobre amor e poesias.

Ela fazia planos para o futuro.
Ele não sabia o que faria no dia seguinte.

Ela tomava café para ficar acordada.
Ele tomava chá para manter-se relaxado.

Ela falava sobre o palpável, o possível.
Ele sonhava com tudo que não era real.

Ela olhava para frente.
Ele olhava para cima.

Ela seguia seu olhar.
Ele disfarçava.

Ela sabia o nome das constelações.
Ele só achava as estrelas bonitas.

Ela tomou um gole de água.
Ele bebeu vinho.

Ela olhou nos olhos dele.
Ele se deteve segundos.

Ela, tímida, sorri.
Ele, feliz, retribuiu.

Há poucas estrelas no céu,
mas as prediletas dele, são as que brilham nos olhos dela,
quando ela lhe sorri.

Ele observa estrelas.

As pessoas são tão tolas, meu bem,
Algumas olham para baixo, tristes,
Outras apenas olham para os lados, julgando.
Mas as grandes coisas, estas estão acima.

Começa sempre a essa hora,
Ou talvez um pouco mais tarde,
Quando cai a noite, querida, olho para cima
E lá estão as estrelas, tantas, a brilhar.

Gosto tanto das estrelas, meu amor,
Isso vem desde pequeno,
É, eu era um desses que sonha ser astronauta.
Não sei exatamente de onde vem esse gosto,
Acho que por não ser exatamente muito atlético,
Jogador de futebol era fora de questão,
Além de sempre ter sonhado com algo mais
Ir além, meu bem, ir além.

Mas fiquei cá embaixo
E tenho de lidar com isso.
Ainda assim, quando a noite cai eu observo estrelas.
Não mais tanto por aquilo que eu pensava criança,
Amo observar estrelas pois isso é observar o passado,
E, querida, eu amo o passado.
Eu o amo pois ele é tudo que não posso mudar,
E odeio ter o poder em minhas mãos,
Deixem-me falhar, deixem-me.

Só que esse não é o principal motivo.
O principal motivo por que observo estrelas
É o fato de que elas lembram-me de ti,
Linda, brilhante, iluminada, quente.
Observar estrelas é ler tuas palavras,
O que hoje leio é o que fora há semanas
E, assim como as estrelas, meu amor,
Estás tão distante.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Balé.

Que bailarino que não quer dançar um solo? Ah, meu bem, eu cansei. Cansei de dançar tantos solos, querida. Tanto solo assim, pela vida. Tantos solos quanto despedidas. Estou farto de tanto dançar só. Chega de ser Don Quixote, chega de ser o príncipe que apenas busca sua princesa. Cadê minha princesa? Cadê minha parceira?
Bem, certa vez houve alguém. Que parceira! É claro que eram apenas ensaios, mas que sintonia! Que pas de deux! Que saudades de você! Sim, como sinto tua falta, pois sei que adora ver-me dançar. Sei que está vendo agora mesmo. Você fazia tudo parecer tão fácil, você me fazia sentir que voava. Você voava, sim, voava. Você, um anjo. Eu, tão só eu, sem graça, sem graciosidade, sem gracejos. Não havia como dar certo, mas quase deu.
Mas não deu. Sou um grande bailarino, sim. Mas só tenho a mim. Sim, tentaram outras parceiras, algumas ainda mais talentosas ou belas que você. De que adianta talento? De que adianta beleza? Não eram você, apenas isso. Sim, sou laureado por prêmios e prêmios. Sim, sou elogiado por coreógrafos e coreógrafos. Sim, pratico por horas e horas.
E dói, querida. Tanto tempo no estúdio. Tantas lesões. Tantas bolhas em meu pé. Meu pé é ele mesmo apenas bolhas. Eu vivo, meu bem, numa bolha. A bolha se chama você. A bolha dói. Ah, querida, como dói vê-la dançar com outros. Mas acalma meus pés o pensar que já dançaram contigo. E eu? Dancei.

Balé.

Ele dava passos firmes, passos concisos, precisos, dava meia volta, e fazia tudo de novo. 
Ela aparece, de fininho, na ponta dos pés, como se pisasse em frágeis nuvens.
Ele se vira e a nota, pára, mantem-se ereto e abre os braços. Suas pernas se movem como asas de beija-flor e ela pula nos braços dele, dão voltas sobre seus pés e sobre o chão que some por alguns instantes. 
Riem, sorriem, param devagar. Um beijo na testa, um rosto corado. 
As mãos não se soltam nem por um segundo, inquietas, conhecem-se, reconhecem-se, os dedos se entrelaçam, se cruzam, se prendem; apertos, beliscões (piscadelas).
Os lábios dela se movem rapidamente, ela para por alguns instantes, mas sempre retoma. Os lábios dele se movem devagar, hesitam, abrem por alguns instantes e fecham novamente. Os dois mordem os lábios sem perceber.
Olhar vago, perdido, evitava olhar para ela diretamente. Olhar decidido, predador, sempre encontrava os olhos dele.
Um sorriso, um riso. Que sorriso.
Ela meneia a cabeça para que ele se aproxime, ele se aproxima. Ela fala, ele fala, eles falam.
Ele se aproxima. A respiração pesada. 
Ela se aproxima. O sorriso nos lábios. 

Eles sorriem e nada mais importa.
Beliscões, mordidas, beijos, sorrisos.
Envolve-a em seus braços, cobre-a de proteção e de carinho. 
Aninha-se no peito dele, os lábios se movem devagar, mas o coração corre mais que nunca. 
Ele se aproxima mais, sorri, sorriem. Ele a observa por partes, ele a toca; a sente; a tem, ao seu lado, em seu coração, em sua memória. 

A noite dura uma vida, uma vida inflamada, vivida, que passa rápido mas deixa marcas em todas as que encontrou. 

Ele precisa soltá-la, mas suas mãos não se soltam.
Ela precisa ir embora, mas seu coração não quer, eles se despedem, se prendem, se soltam,

 as cortinas se fecham e todos aplaudem, mas elas não abrem novamente.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A maré.

A maré te levou de mim.
Lhes observei, a maré e você, a se distanciar.
A maré ia para longe, ia para perto.
Você, como a maré, quase voltava para mim.
Mas iam, iam, escapavam entre meus dedos, a maré e você.
Parecia tão distante, que até valia a pena te amar, bela como a maré.
Mas logo, se enchiam, você e a maré, e estavam por toda a parte.
Até onde os olhos alcançavam, via maré, via você.

Mas, a Lua se foi, e a água ficou calma.
E, senti em minha alma, que partiram, para o céu,
ou para um fundo, para um lugar perfeito,
e depois de tudo que foi feito, percebi finalmente.

Nosso amor já não borbulha,
como a espuma da água que borbulhava quando nos conhecemos.
A maré vai e volta, mas não vai, não volta.
Se voltasse para mim,
seria outra, seria mar, céu, e um pouco menos o que era.
Mas tudo mais do que é.

Se quisesse nadar de volta para mim, nadaria.
Mas se não quisesse ir com a maré, não seria você.

As ondas não te levaram de mim.
As ondas não levam nada.
Apenas mensagens em garrafas,
e oferendas a deuses.

Eu vou e volto, mas não consigo me decidir.
Eu sinto sua falta,
e tudo que deu errado, culpo a maré de azar!

A maré.

A maré já está alta, minha querida,
E o teu amor acaba por afogar-me.
Afoga-me, meu amor, quero que afogue-me,
Pois o sentir meus pulmões inundando-se
É quase sublime como o teu toque.
És tão linda nessa noite, meu bem,
Pouco importam-me os clichês, sol e mar,
Sol e mar para o inferno, basta-me tu,
Tu, com a pele mais alva que a lua,
Tu, sempre a mover-me feito maré

Mas se vais embora,
Feito a lua some,
E descem os mares.
Não desce meu amor,
Nessa praia tão erma.

Quando a encontro novamente o amor transborda,
Ou ao menos aparenta, minha cara.
Sê minha nessa noite, linda lua,
E cá, nessa cama feita de areia
Há só sonhos e não quero acordar.
Amo as tuas bochechas, teu sorriso,
Teus cabelos, tua alegria, tu.
Mas nossas terras não tem litoral.
Nem mesmo posso ter teu amor, querida.
A maré baixa, e nada mais resta.

A água ainda existe,
Secou foi teu amor.
O sal me é ruim,
Doce é a tua boca.
Afoguei-me. Salva-me?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Com gelo.

Restaurante. A mesa de mogno. Uma toalha branca. Dois pratos. Talheres em pares. Duas taças e dois pequenos copos.  Diversas velas. Um vaso de flores. Rosas. Duas cadeiras de mogno. Aproximam-se três pessoas. Um rapaz, a moça e aquele que muito provavelmente seria seu garçom. O último aponta a mesa. O rapaz puxa uma das cadeiras para a moça. Agradece a ele com uma leve inclinação de cabeça e um sorriso.
O garçom pergunta o que querem. Ele começa com algo alcoólico. A moça pede apenas uma água com gelo.
Ele tem um impulso. Faz uma piada. Ela sorri. Ele pensa algo sobre não saber quais talheres usar.
Ela pensa se não deveria sorrir menos, será que ele acha que está sendo muito fácil? Não, ela não fez mais nada que ele possa interpretar mal. E está bonita? Bem, agora já é tarde de mais, não há mais nada que ela possa arrumar, se bem que poderia muito bem ir ao banheiro para dar pelo menos uma ajeitada. Mas não, eles acabaram de chegar, que tipo de mulher que vai a um encontro com vontade de ir ao banheiro? Era melhor esperar mais um pouco. Além disso ele poderia perceber que era apenas um pretexto para ver se estava bonita, e isso apenas faria com que ele ficasse com o ego ainda mais inflado. Ou talvez não, ela não o conhecia profundamente mas já sabia que ele não era do tipo que repara em algo mais que no corpo da mulher com quem saía. Era um bronco, era isso que ele era, e daí que lhe puxara a cadeira? Era o mínimo que deveria fazer, além de ser tão clichê aquele falso cavalheirismo. Verdadeiro cavalheirismo é meramente respeitá-la como indivíduo, não precisava colocá-la como princesa, estamos falando de cavalheiros, não de cavaleiros. Sim, era bonito, algo talvez até principesco, diga-se de passagem, mas isso não era o que ela esperava naquela fase de sua vida, rapazes bonitinhos eram para meninas, jovenzinhas recém-saídas da escola. Ele era sim um bronco, é bem verdade que não o conhecia intimamente, mas do pouco que viu inferiu o todo, não era boa coisa, nenhuma vez falou de algo interessante e uma das primeiras coisas que lhe perguntou foi o time para o qual torcia. Ela não gostava de futebol. É, já passara da hora de se casar, era o que diziam seus pais, às vezes ela via motivos para concordar, esse era um desses momentos em que seus pais apareciam em sua mente a repetir isso. Sim, talvez ela precisasse de alguém que apenas a entendesse, não precisava de um príncipe, de um homem saído de um romance do século XIX ou cousa parecida, tampouco de um galã de uma comédia-romântica, era um jantar e ela não queria vomitar sobre a mesa tão bem posta. Mas talvez fosse apenas esse o problema: não havia quem a entendesse. Bem, a culpa era dela então? Claro que não, sempre fora uma ótima filha e cidadã desde pequena, jamais desrespeitava os pais, na escola era a melhor da classe, sua professora de português no Ensino Médio dissera-lhe que ela iria longe, será que já chegara a essa tal terra prometida? Na faculdade, mais do mesmo, a melhor em todas matérias, orgulho da família e tudo o mais. Paralelamente fazia trabalho voluntário, todos a adoravam, a culpa não era dela. Ou talvez esse fosse exatamente o problema, era exageradamente sem graça. Não sabia, era por demais complicada.
O garçom voltou, havia esquecido do gelo.

Com gelo.

- Eu vou querer... Absinto! - Disse o rapaz mais alto.
- Ok... Absinto, e para você? - Perguntou o garçom bigodudo ao outro garoto.
- Absinto, também, com gelo. - Respondeu o segundo.
- Tudo bem, já volto com as bebidas.
- Por que com gelo, cara?
- Não sei... Pra fazer menos mal?
- Você sabe que dá na mesma né?
O menor fez que sim com a cabeça enquanto as bebidas chegaram e beberam juntos.

- Uísque. - disse o homem loiro.
- Uísque também, com gelo. - o moreno falou.
- Sabe - começou o primeiro - você sempre pede gelo com suas bebidas, sempre tive curiosidade do porquê disso.
- Bom... na verdade, é puro placebo, é como se, pra mim, não fosse tão ruim, como se fosse amenizar. Minto para mim. - Tentou se explicar o segundo.
O que perguntou ficou satisfeito com a resposta e beberam juntos.

- Vodka. - Pediu o gordo.
- Vodka também? com gelo, certo? - O garçom perguntou apontando para o magro.
- Sim... com gelo. - Concordou.
- Sabe, mesmo que fizesse alguma diferença, pelo tanto que você bebe aqui, seria irrelevante, haha. - Disse o primeiro.
- E nem ao menos faz, mas eu finjo que sim.
- Todos nós fingimos, se não fingíssemos, ou enlouqueceríamos, ou não faríamos nada. - Completou o gordo.
O magro apenas meneou a cabeça e beberam juntos.

- Sabe... eu quero te dizer uma coisa. - A moça falou timidamente.
- Ahn? Diga, oras. - O rapaz respondeu enquanto bebia.
- É que... bom... - Ela tentava olhar em seus olhos, mas ele só olhava o gelo no fundo do copo.
- ...
- Eu te amo! - Ela disse, corando instantaneamente.
Ele não sabia o que dizer, pensou em qualquer coisa, menos nisso. Justo ela, justo ele.
- Eu também te amo, com gelo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Água e Vinho.

Bebamos, querida, mas tenha calma,
Devemos beber apenas o agora.
Venha e coloque, meu bem, a tua palma
Nas mãos deste homem que a adora.

Se quiseres, embebedar-nos-emos, mas nada entenderei,
Tropeço,
E, trôpego, sôfrego por ti,
Que ego, meu bem. Não te mereço.
Não te mereço,
Nunca mais.

Ó, minha rosa, não te encontro mais,
Clamo por ti, pergunto pelas ruas,
Se viram o meu amor, a minha paz.
Nada. Tão só lembranças tuas.

Céus, onde está você, querida?
Olhos cores de mel,
Boca cor (e gosto) de vinho,
E os cabelos dela, por deus,
Aquele louro tão ouro,
Ou seria castanho?
Mas, bem, alguém a viu?

Bem sei que, sim, tive lá a minha sorte,
Mas essa minha roda está travada,
Rolará só ao dia de minha morte,
E que me resta depois? Nada.

Nada.
O mundo me devorou.
Sem ti, nada.

Mas acordo, a água era demais fria,
E finalmente descubro onde estavas.
Pois desapareces durante o dia,
E nos sonhos durante as trevas.

Pois é isso que você é,
Um não sei quê,
Pois é apenas um sonho,
E nada mais.
És o que dá beber demais,
És um não entender a vida.
E o amor que sinto e a poesia,
São como o vinho e água,
Tão diferentes, tão desiguais,
Mas em mim, na taça,
Misturam-se de qualquer maneira.

Água e Vinho.

Tinha sede, sede de vida, sede de conhecimento e aventura. Sedento por vida, por sentir o coração bater. Mas acima de tudo, tinha sede, precisava beber algo.

Bebeu uma taça de vinho e foi viver, estava tímido de início, não sabia o que fazer, o que pensar, estava nervoso, suava muito

Resolveu tomar um copo d'água, analisou bem a situação em que se encontrava, as atitudes que deveria tomar, como proceder, as variáveis, as consequências:

a primeira coisa que fez foi beber mais uma taça de vinho, resolveu conhecer as pessoas, falar sobre suas paixões, sobre sua paixão, conhecer a si mesmo, e acabou conhecendo uma garota deveras interessante,

Mais um gole d'água, antes de tomar qualquer ação, resolveu planejar bem o que fazer a partir disso. A guria era de fato interessante, mas seria isso o mais importante? Também conhecera colegas escritores, preocupados com o rumo da nação, de sua geração.

+ 1 gole de vinho e percebi que tinha se apaixonado por ela, logo foi declarar-se, fez poemas com rimas pobres e métricas inexistentes, fez sonetos sem saber como se faz um soneto, fiz canções, escrevi tudo que não deveria ser lido, mas ele leu para ela, era amour

No dia seguinte, sentia dor de cabeça e dor no peito. Tomou muita água, e resolveu esquecê-la, esquecê-los. Afinal, com tantas guerras, tanta injustiça, tanta coisa no mundo, o amor ficava pequeno. Resolveu batalhar para mudar as coisas, precisava abrir os olhos das pessoas, ser ouvido. E quando estavam do seu lado, celebrou, estava finalmente fazendo alguma diferença.

na celelebração embebedouse do mais nobre vinho, e meu peitgo ardeu em chama, ao pensar de q valia tud isso se n tinha você, se estva só. tudo qu eu sentia, tudo q tinha guardado em meu peito para ti, era bem maior que qualqer problema mundial, que qualquer politica, o mundo era menor que o meu amor, caí em prantos, cai confuso, cai de cabea nos meus sentimengtos, cai mesmo, de joelhos, e doeu. deitei-me

Acordei, ainda um pouco atordoado, lembrei em partes do que fiz, lembrei em partes do que fazia, e lembrei completamente de ti.
Verti doce vinho, banhei-me com pura água.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Da morte.

A vida,
a vontade de viver,
o amor,
o querer, querer sempre,
a coragem,
a braveza e a esperança,
o medo,
o pavor contínuo,
o sorriso,
a risada sonora,
a lágrima,
o choro copioso,
a companhia,
a amizade verdadeira,
o tudo,
o nada.

Lista de algumas coisas que vêm da morte.

Da morte.

Eu já tinha um poema todo escrito,
Falaria sobre a morte
E sobre como a temo.

A única coisa que temo é a morte,
Eu diria,
Pois a morte é o verdadeiro fim,
A morte é não haver segundas chances.
E utilizaria a mesma regra para outras ideias,
"A morte do amor, minha cara,
É o não haver segundas chances contigo."
Tolo, eu sei.
Mas seria o que eu faria.
E, bem, também haveria um bom trocadilho,
Sim, seria um dos bons.
O final do poema, minha querida:
Só temo a morte,
Só temo amar-te.

Bem, não seria dos piores,
Mas percebi que estava errado
Graças a um amigo meu
Que denunciou-me a falha.

Feria aquilo que é a realidade
Pois temer a morte é absurdo,
Morreremos um dia, todos.
Todos terão um fim, um dia.
Por essa razão, meu bem,
Que temer a morte é inconcebível,
Pois temê-la é temer ser eu mesmo.
Temê-la é temer ser humano.
Temê-la é temer existir.
Temê-la é negar a realidade.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Babel.

Em toda São Paulo havia somente uma vontade, e empregavam-se as mesmas ideias. A população desejava somente o bem de sua cidade, pouco importando quem era o governante, contanto que possuísse boa índole e buscasse o bem daquele município que tinha proporções imperiais.
Emigrando não apenas do leste, mas de toda a cidade, os cidadãos encontraram uma calçada vazia, embora em péssimo estado de conservação, sobre o Viaduto do Chá, mais precisamente em frente ao número 15 desse viaduto. Os sussurros no escuro diziam um ao outro para ficarem por lá até o amanhecer, pois ali conseguiriam chegar ao seu objetivo.
Disseram uns para os outros "Vamos entrar nesse prédio, talvez a gente consegue algo lá dentro." Um rapaz, tímido e com pouca força de espírito lhes disse que ele iria esperar, ele iria esperar por eles. Adentraram e seguiram para subir os primeiros degraus.
Depois disseram: "Vamos até o topo, até lá a gente encontra alguém pra ajudar na melhoria da cidade." Mal sabiam eles que naquele prédio ninguém fora eles parecia querer o bem daquela daquela cidade. Lá fora, o rapaz olhava perdido para a 23 de maio e contava carros, avenida de uma data que lembrava fantasmas que ele conhecia e que tanto se importaram com São Paulo, o que pensariam aqueles se a vissem agora? Enquanto isso, seus companheiros chegaram ao topo e encontraram um jardim edênico, e um senhor onipotente engravatado a aproveitar o dia naquele oásis naquela cinzenta cidade.
O Senhor, porém, foi na direção daquele grupo a fim de ver o que protestavam e como haviam conseguido chegar até lá com tanta facilidade, pois seus montes de seguranças deveriam ter feito algo. Ao mesmo tempo o nosso velho conhecido estava lá fora pensando em maneiras para mudar a cidade, uma vez que era um amante da luz da razão, pensando em sua querida terra natal, seus olhos de amante brilhavam e enchiam-se de lágrimas ao mesmo tempo, dada a situação em que se encontrava.
E o Senhor disse (a um assessor): "Eles constituem apenas um povo e falam todos das mesmas ideias. Se principiarem dessa maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projetos
Vamos, pois, descer ao nível deles e confundir de tal modo os ideais deles que não consigam compreender-se uns aos outros."
E o Senhor dispersou-os dali por toda a superfície e por todos grupos de São Paulo, e suspenderam a reconstrução da cidade. Depois disso, o rapaz tornou-se um viajante quase sem esperança, mas criou um partido que buscava fazer com que todos se lembrassem de quando falavam uma mesma língua quando o assunto era o bem da cidade e construir uma torre até o poder, para que ficassem no mesmo patamar de Senhores como aquele outro, para que lhe quebrassem a coroa.
Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, e todos desse partido não queriam ver ninguém abaixo de seus pés e somente à altura de seus olhos. O plano é grande, o plano é trabalhoso, mas um dia eles conseguirão, não com pressa, e sim com comunicação.

Babel.

1. Naquele tempo a humanidade falava cada um uma língua, mesmo quando era a mesma.
2-4. Ora, cansados de caminhar sem rumo, voltaram ao Iraque. E resolveram reconstruir uma grande cidade. E nessa cidade projectaram levantar um templo com a forma de duas torres altíssimas que chegasse aos céus. Isto, disseram, nos unirá na terra toda.
5. O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que estavam a levantar:
6-7. Vejamos: se isto é o que eles são capazes de fazer, sendo um povo tão diferente, não haverá barreiras entre eles. Vamos descer e que a língua deles se una, que se entendam plenamente.
8-9. E foi dessa forma que o Senhor os uniu por completo, permitindo a construção daquela cidade. Todos se entendiam, falavam o mesmo idioma e pensavam o mesmo, condenados a viver em Babel, a cidade que todos são um e ninguém mais é alguém.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Diálogo.





Mas o fim é a única certeza que temos, querido.
Não temos nem certeza do que sentimos,
só de que acabará, cedo ou tarde.





Pois que eu o gaste todo contigo,
que junto de ti ele é mais bonito.
Quase tão belo quanto tu.





Você sabe que nunca terá fim!
Passem dias e anos, 
será sempre quem amo.





Deixe de sonhar, deixe de planejar,
apenas viva, viva comigo antes que tudo acabe,
quando morrermos nossos amores vão junto.







Seria loucura decorar isso toda noite?
Ouvir mais uma vez de teus lábios que me ama,
sonhar acordada com você em minha cama.
Tenho tanto medo de que tenha voltado atrás,
que não sou nem capaz de imaginar.

Diálogo.

Ele:
Devo partir, meu amor,
Já é dada a hora,
Que a noite se fecha
E aproxima-se a aurora.

Ela:
Não era o pássaro da manhã,
A cotovia, quem cantava ao fundo.
Fica, meu querido Romeu,
Mesmo que por mais só um segundo.

Ele (aparentemente Romeu):
Chama-me a cotovia,
Mais soando como a ave do agouro
O corvo. Ademais, lá em cima
Já brilha o sol como ouro.

Julieta:
A luz é da lua que altiva nos ilumina,
O sol atrasar-se-á ainda,
E, quanto ao corvo, que se alimente
Do nosso amor. Há coisa mais linda?

Romeu:
Mas e o pássaro, Juliana?
E o Sol que já se alevanta?
Já é a minha hora de ir
Ouve, o rouxinol canta.

Juliana?:
Deixa-o cantar,
Ele nunca entrará por essa janela.
Mas dize-me, ó Romeu,
Essa Juliana, quem é ela?

Romeu:
É você, e sempre foi?
E Romeu, que Romeu?
Meu nome é Pedro,
Que é que te deu?

Juliana:
Desculpa, estava sonhando.
Bem, apenas esqueça.
Mas então que são esses versos e nomes?
Não estamos em uma peça?

Pedro:
Agora que você comentou,
Realmente há algo de estranho
Por que o que falo rima?
Mas ainda assim falta o tamanho.

Juliana:
Sim, ele trabalha com uma falsa métrica,
Isso quando se lembra disso, e não o faz em linha reta.
Pobre dele.
Parece ser um mau poeta.

Pedro:
Pobre dele?
E nós, minha querida?
Somos ideias de um mau poeta?
De onde veio minha vida?

Juliana:
Ao menos sabemos o que somos,
Palavras dentro de um poema.
E ele que nem sabia que era mau poeta
Até dizermos. De quem é o maior problema?
(Saem.)

Deixam-me só, como todos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Setembro Chove.

Está a chover mais uma vez, essa época do ano é sempre assim. Incrível como sempre há de chover em setembro, mesmo com esse seco inverno paulistano ela sempre vem. E pensar que setembro já foi um mês feliz para mim, há cinco anos atrás, quando não me preocupava com a literatura ou com o que seria de minha vida foi quando vivi o melhor do mês de todos, e até mesmo o melhor aniversário de todos.
É, setembro de cinco anos atrás, que mês foi aquele? Vivi tudo de uma só vez, tanta alegria, tantos sorrisos (agora te digo que talvez eu tenha sorrido mais naquele mês do que sorrirei em toda minha vida), tantas parvoíces, só faltou a contraparte de tudo isso, faltou nele a tristeza, mas ela compensa a ausência em um mês ao ser minha parceira pelo resto da vida, ao menos alguém tinha de ficar ao meu lado depois da partida de outros. 
Em pensar que menti naquele mesmo mês ao dizer que escrevi-lhe coisas que não eram minhas, agora isso é para você (se estiver lendo, pode ignorar e seguir sua vida calmamente, não se preocupe com um garoto solitário que não consegue esquecer pessoas que o esqueceram há um bom tempo, e que, se lembrarem, será apenas como um bom amigo, nada mais). Mas pouco importa esse texto ser para você, todos são no final das contas, mesmo os literários, mesmo os poemas que nem mesmo citam a palavra amor, tudo é você (ignore, por favor).
O melhor aniversário da minha vida, e eu não fiz nada de mais. Tudo isso por causa apenas de uma garota. Apenas? Bem, não era apenas uma garota, embora compartilhasse algumas características com as outras garotas, ela me era especial (se bem que, olhando de fora, apenas uma garota, sem ofensas). Era especial porque foi a primeira a me sorrir, talvez a única que me tenha sorrido verdadeiramente, talvez a única que sorrirá em toda minha vida (provavelmente não, na verdade, ignore essas palavras de um filho do Romantismo).
O melhor aniversário da minha vida, era uma quinta-feira assim como ontem, mas não era um dia como ontem, acreditem ou não, estava ensolarado, o último 13 de setembro ensolarado de que se tem notícia. Fazia sol porque ela ainda não havia partido? Provavelmente não, o mundo não se importa comigo o suficiente para isso (não se importe também, é só um texto), embora acredite às vezes que chove apenas para que não vejam toda minha tristeza.
Chove, setembro chove (se lembro choro).

- Lucas, vamos sair, o dia está tão lindo.
(Mas ainda chove).

Setembro Chove.

O desgosto acabou, finalmente, Agosto, adeus! É oficial, já não tenho notícias tuas há mais de mês, o que significa que todo aquele tempo chuvoso ficou pra trás, as nuvens negras são parte do passado, o frio ultrapassado. À minha frente só vejo tempo bom, um céu claro, o Sol a brilhar. A previsão do meu tempo é que agora é tempo, tempo de viver, tempo de ter tempo.
Afinal, o que posso fazer sob a chuva? Sob o frio? Ficar em casa, me afogar em cobertas. E, sinto dizer, todos sabem que o nosso tempo era esse, era. Agora tens o teu e tenho o meu. Era bom, claro, passar uma tarde fria contigo, mas como é livre caminhar num belo dia, ensolarado, quente. As nuvens negras nunca mais apareceram.
É setembro, já nem me lembro de como é ter um dia tão parado de chuva, acordar embolado, com medo do frio. Esqueci por completo, de suas nuvens, olhar pro céu e temer, não mais. Não chove, não chove! O tempo agora é sempre bom, maravilhoso. Não trocaria isso por nada.

As nuvens negras... eu as escondi, estão aqui dentro. Finalmente, posso colocar tudo para fora, em Setembro chove.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Copo d'água.

E cá estou eu,
sedento,
há dias perdido.

Sem saber para onde ir,
num deserto de solidão.

Sob o sol escaldante
completamente exposto
desprotegido.

Sem rumo,
Sem norte,
Sem ninguém.

Encontrei outros, também perdidos.
Já encontrei quem dizia saber onde ia.
Encontrei e desencontrei.

Sedento, perdido.

Te vi ao longe mas não quis crer
Depois de tantas ilusões, miragens
fica difícil definir o real.

Abriu-me um sorriso,
estendeu-me a mão,
senti-me, afinal, vivo.
O calor não importava,
a sede eu esqueci.
Podia sobreviver só do seu olhar,
me esconder em teu sorriso.

"Você não parece bem, tome"
E, pasmem, me entregou um copo d'água.
Cristalina, até a boca, fria (frívola?)
Tomei num só gole,
não sei se foi a água,
se foi você.
Mas algo dentro de mim estava diferente.

"Onde achou essa água?"
"Estava em cima do piano."
Fui feliz.

Copo d'água.

Um copo d'água
Sobre a mesa
A esperar.

Mas que valor tem
Um copo d'água
Frente a tantas outras bebidas?

Se tiveres uma taça de vinho
Por que escolherias a água,
Minha querida?
Tão lascivo,
Tão doce,
Libertador.
É claro que sim,
O vinho venceria.

Talvez um suco de laranja
Deixaria o copo d'água para trás,
Mais saboroso, é verdade,
Além de deixá-la saudável.

A água ou chá?
Evidente que o teu chá,
Meu bem.
O teu chá, caloroso,
O teu chá e o seu aroma,
O teu chá, minha querida.

Acredito que até mesmo
Um copo de veneno
Seria o teu preferido.
Ao menos ele faz sentir,
Ao menos ele pode tocar-te.

E o copo d'água,
Ainda espera?
Mas não será escolhido.
O que é que tem de mais?
Que gosto tem a água?
Que gosto tenho eu?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nós somos feios, nós estamos salvos.

Ela me olhava com aquele sorriso torto que fazia dela a criatura mais amável no universo, ao menos para mim. Sorria sem mostrar os dentes e tomava mais um gole de chá em sua xícara favorita. Eu sempre quis saber porque ela amava aquela xícara, ela sempre tentou esconder o motivo até o dia em que seu irmão contou-me que era presente de um ex-namorado, tentei não a assustar quando trouxe o assunto, mas a assustei o suficiente para ficarmos brigados por quase uma semana. Ela amava ainda mais o chá, mas esse sem nenhuma razão particular, apenas o gosto. Eu pensava demais e ela tomava mais um gole e dava um quase sorriso, a sala era toda silêncio, eu ocupado com afazeres que precisava terminar para a faculdade, ela a tomar seu chá enquanto lia o jornal e também a sorrir-me eventualmente. Ela matou o silêncio ao perguntar-me o que pensava sobre a situação de um país árabe qualquer que encontrava-se em guerra civil, coisa sobre a qual todo homem da minha categoria deve ter opinião. Eu respondi-lhe a mesma opinião que todos esses outros homens dessa categoria.
Ela tentou prolongar a vida de nossa conversa ao falar uma coisa aleatória sobre famosos ainda mais aleatórios, percebi a sua iniciativa e colaborei ao proferir toda sorte de eufemismos vituperiosos apenas  para concordar com sua opinião de uma maneira que não ofendesse aquela delicada flor de pouca beleza, uma vez que odiava que eu discordasse dela. Eu apenas sorri.
Ela sorriu-me de maneira ainda mais sem graça, aquele sorriso fez com que me lembrasse de quando a conheci, não era aquela moça que tomava o chá, era uma garota cheia de vida e encanto, sorria mostrando os dentes, que brilhavam com um branco cor de luar. Eu e ela amávamos o luar, passávamos noites debaixo dele a beber vinho e rir das mais variadas piadas sem graça, mas ríamos porque éramos jovens, éramos lindos, éramos condenados a um fim, seja o fim do relacionamento, seja o fim daquele encantamento, optamos por matar o encantamento mesmo. Ela tomou mais um gole e ajeitou em seu cabelo, a orelha destacou-se como de costume. Eu sempre havia notado que ela tinha uma orelha um pouco grande, que teimava em despontar em meio ao cabelo, lembrei-me de quando tive de sair do país para estudar, ela inventou que nos comunicaríamos somente por cartas e sempre enviava-me junto uma mecha de seus perfumados cabelos, hoje eles não são mais tão cheirosos, e ela nem mesmo tem toda aquela graça que via naquelas cartas, onde a ausência só fez o amor aumentar e o coração afeiçoar-se ainda mais. Ela era maravilhosa em sua juventude, mas não sei se sinto falta disso, admito meu egoísmo, ela era maravilhosa demais, se continuasse daquela maneira ela logo perceberia que não a mereço, sem contar que muitos tentaram tirá-la de mim, houve até uma vez que entrei em uma briga por ela, nem preciso dizer que levei a pior.
Ela perguntou-me repentinamente se eu ainda a amava, como se estivesse a ler meus pensamentos. Eu espantei-me, ela olhou-me penetrantemente e fez um movimento com a cabeça como quem acentua o tom de seu questionamento, ponderei por volta de dois minutos enquanto analisava aquela que estava diante de mim. Ela era diferente da moça que eu conhecera há quase uma década antes, mas ela era pior? Ela era sim menos bonita, mas muito mais sábia. Ela era sim menos calorosa, mas compensava com sua calma. Ela era mais tediosa, mas compensava com sua compreensividade. Eu respondi que sim, que ainda a amava, talvez mais ainda do que antes, era bem melhor ser assim. Nós somos sim feios, mas nós estamos salvos.

Nós somos feios, nós estamos salvos.

Do alto de nossa baixeza, do topo do fundo do poço, os víamos.
Imponentes, altaneiros, sempre o centro das atenções.

Eles são lindos, são fortes, são perfeitos.
Somos feios, somos fracos, somos defeituosos.

Veja só aquele, como é incrível, voa tão alto, brilha como o Sol, corre como o vento. É magnífico, até cair. E cai. cai. cai. Uma queda tão horrível, que não posso evitar de fechar os olhos - outrora focados apenas e sempre nas fantásticas criaturas -, ouço um som de ossos a se espatifar.
Veja só você, não, não veja, não ligo, não ligamos.

Voam, com graça, depressa, para o alto, para frente. Mas uma hora caem, se pararmos para pensar, sempre caem. A maioria, sempre cai, raros são os que planam para sempre, encontrar um lugar ao sol, no topo do Olimpo.

Cai, cai, cai. Caiu lá embaixo, na fenda que nem mesmo nós temos a coragem de entrar, onde criaturas abomináveis residem, gritam, choram. E quando cai, não levanta, mas se levanta, levanta com semblante tão grotesco, que empurramos, enxotamos, chutamos, xingamos, cuspimos de volta. Sai daqui, monstruosidade, não és digna nem de nós. Se cai - ou quando -, é melhor esquecer.

Voo breve, voo curto, se comparado à eternidade no abismo, no infinito da humilhação.
Que bom que não voamos.

Nós somos feios, nós estamos salvos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Meus tênis favoritos.

Coloco meu all-star azul, 
mas ele simplesmente não combina.
Tento ir com um mais básico,
e fico muito sem graça, muito sem sal.
Se ouso demais já fico colorido,
pareço um palhaço.

É, não tem jeito.
Escolho meus tênis favoritos.
"Você fica tão bonito."
Que também eram os seus.

Meus tênis favoritos.

Meus tênis favoritos estão velhos,
Pobrezinhos, estão a morrer.
Envelheceram, perderam toda a beleza.

Coitados, fizeram tanto por mim,
Tantas garotas sorriram-me por eles,
Tantas pessoas reconheceram-me
Porque era o rapaz dos tênis legais.
E eu, o que fiz por eles?
Senão usá-los à exaustão,
Desgastá-los,
Matá-los.

Mas é melhor que estejam velhos,
Pois assim aprenderei a viver sem eles.
E é melhor que eu os deixe,
Pois de que vale algo que comove pela surpresa
Se todos já conhecem seu segredo?

Já não sei mais o que farei sem eles,
Depois de ter caminhado tanto os calçando,
Acho que perdi minha identidade no meio do caminho,
E já não sei mais aonde ir,
Não consigo esquecer que
Meus tênis favoritos estão velhos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Hiato.

Escreveu mais um poema, publicou-o, enviou a todos seus amigos. Esse era um dos bons, se não o amassam eles teriam algum problema, e se não comentassem seria coisa absurda, mas eles não fariam uma coisa dessas, olha só essas imagens que ele criou, não haveria como deixar isso passar, e essas rimas ricas, sem contar aquela que funciona tanto em português quanto em francês, brilhante. E aquela quebra na métrica justamente no verso que quebra todo o sentido? Como ele conseguira fazer aquilo? Pensava consigo mesmo que atingira um novo patamar.
Mas não, eles não amaram seu novo poema. Nem mesmo comentaram, nem mesmo um "achei legalzinho, embora não tenha entendido nada", eles nunca entenderam, nunca mesmo, e o azar era todo deles, eles que estavam perdendo a riqueza literária que ele trazia. 
Pois bem, ele lhes daria uma resposta à altura: entraria em hiato, pararia de escrever por um tempo e eles não teriam poemas em suas vidas, aí sim descobririam como precisavam da arte. Melhor ainda, utilizaria todo esse tempo para pensar em só um poema, poderia ser um poema grande, daqueles que traz uma histeria à la Campos, mas também precisa de sensibilidade, consulta o maior de todos, Baudelaire, para isso. Mas não pode esquecer-se da métrica, ela tem de fundir-se à perfeição com o conteúdo, como um Bilac juntando-se ao romantismo. O ritmo também precisa ser levado em conta, que tal um ritmo para cada estrofe? Tudo de acordo com o que ela quer dizer, as Odes horacianas todas em um só poema, isso sim seria o ápice. Falando em clássicos, uma referência ou outra aos mitos não fazem mal a ninguém, mas de certo modo atualizados, como um Joyce versejador. E as imagens, não pode esquecer-se das imagens, Yeats lhe serviria. Por fim, uma pitada de nacionalismo e engajamento social, mas não um nacionalismo, talvez precise de um sentimento mundial, é isso.
Pronto, dois anos depois estava escrito o maior poema de todos os tempos, só falta-lhe o título. Antes disso ele quer ver como estão seus amigos, provavelmente miseráveis, não sei como podem ter vivido tanto tempo sem a poesia, por vezes eles até conversavam com o nosso heroico poeta, mas ele não lhes transmitia toda a poeticidade que poderia passar, eles não mereciam.
Olhando direito, eles não estavam miseráveis, parece que não precisam de poesia, e o que fazer com o nosso grandioso poema? Acho melhor dar o título, pelo menos, "Hiato" lhe cairá bem, e é claro que será publicado e enviado a todos os amigos do mesmo jeito, pouco importa se não entenderão um décimo das referência, pouco importa se não reconhecerão os iâmbicos, pouco importa se não compreenderão a mensagem, pouco importa a vida, ele ainda tem a poesia.