sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Marinheira.

Aqui do píer eu observava aquela bela garota no cais, com seu corpo delgado, o escuro cabelo ao vento. Aqui do píer eu observava aquela bela garota no cais, com seu uniforme branco, como o daqueles rapazes, ajudando-os, descarregando o barco, ou o arrumando para uma nova viagem. Eu observava aquela bela Marinheira, tão obtusa, tão decidida. Quase como uma santa, intocável. Ninguém se atrevia a dirigir-se a ela com intenções oblíquas, eram sempre cordiais. E levantaram âncora.
Algumas semanas depois, lá estava a embarcação novamente, e a marinheira descia com um sorriso no rosto, a pele agora côr de bronze, e uma delicadeza virginal ao pular no cais, que eu observava aqui do píer.


E minha rotina era essa, observar - de longe - do píer, aquela bela Marinheira, distante, inalcançável. Para que eu tentaria uma aproximação? Para que eu iria querer saber se seu nome é Sandra, Rosa ou Madalena? Era mais do que óbvio que seria rejeitado, seu olhar emanava independência, ela não precisava de nada disso, de ninguém, de alguém. Estava muito ocupada com seu barco, com o mar, para amar. E zarpou.


Até que um dia, vi - aqui do píer - um rapaz no cais, não muito diferente de mim, esperando alguém há algum tempo. Quando o côncavo barco chegou, a Marinheira parecia ainda mais sorridente, desceu num salto e deu um longo beijo no moço que a aguardava. Eu realmente não entendia o que ele tinha que eu não tinha, éramos tão parecidos. Mas depois percebi que ele içou vela, enquanto eu apenas esperei pela maré.

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