terça-feira, 24 de julho de 2012

As Flores.

Despedaçadas,
desperdiçadas.
Lírios? Rosas? Não importa, não são.

Uma surpresa, tão bem guardada,
que nunca soube, nunca saberia,
o buqué que nunca te dei,
nunca darei.

Cravos? Crisântemos?  Que diferença faz,
as flores são apenas desejos,
vontades, saudades.

Mal-me-quer,
mal-me-quer,
mal-me-quer.

Margaridas, Lírios, Narcisos, Tulipas.
São apenas pétalas espalhadas pelo chão,
são apenas dores espalhadas no coração.

Mal-me-quer,
bem-me-quis.

O Ramalhete que te dei, não era de flores,
e sim de carinho e amores.

E como os lírios e as rosas,
sem água e sol,
sem cuidado e poda.
Ressecaram, morreram.

As Flores.

As flores são patéticas,
Elas e essa mania de serem bonitas.
As flores são tediosas,
Vivem somente de superficialidade.

As árvores merecem valor,
Nós e nosso costume de pensar no todo.
As árvores buscam o bem comum,
Sempre a produzir para todos animais.

Já as flores, egoístas,
São polinizadas meramente para manterem-se.
As árvores, bondosas,
Produzem frutos para que vivam todos.

Você, flor tão comum,
Eu, árvore generosa.
Não haveria motivo para dar certo.

As flores são patéticas,
Ainda assim, as amo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Miss Universo.

Você é coisa fora do comum, minha querida. Você e essa sua beleza tão sua. Esse seu olhar cortante, essa sua boca ardente. Você e sua altura fora da média. O cabelo cortado da maneira que tanto gosto. E as suas roupas, por Deus, como pode haver garota que vista-se tão bem? Mas há também todos os seus trejeitos, que são só seus, e que mesmo assim os divide comigo. Eu sei que vai parecer exagero, mas poderia ser Miss Universo, ao menos em meu universo.
Você, coisa tão comum, e ainda querida. A sua beleza é sua e de mais milhões, o seu cabelo é igual ao de tantas, assim como seu estilo. É, os seus trejeitos não são especiais, só serão enquanto eu amá-la. Eu sei que vai ficar chateada, mas na verdade, está mais para Miss universal, e eu gostarei de você assim.

Miss Universo.

E a Miss Universo desse ano, com 1,57m, o cabelo desbotando e repicado, um olho maior que o outro e pequenas bolsas de insônia, a boca um pouco pequena demais e sem batom, o esmalte descascando, um pouco cheinha, as ancas mais largas que as de modelo, o all star surrado, e um sorriso sempre no rosto é a Miss Eu Não Ligo Para Isso.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Dançar.

Perdido, encontrei-me naquele baile,
sozinho e acuado, apenas observando, afastado.
Ao meu lado, todos a dançar, e eu, temeroso, não saia do lugar.

O tempo passava, e cada vez mais, ao ambiente, me misturava.
Até que uma roda foi formada, ao redor de uma menina,
que rodopiava com graça, como uma bela bailarina.

E sorria, como se nada importasse,
e girava, como se sozinha estivesse.

Girava, girava, leve feito pluma.

Dançava, como se tivesse nascido a rodopiar,
dançava. E escondido eu continuava a espiar.

Leve, graciosa e doce,
sorriu-me, chamou-me.
"Quem, eu?"

Puxou-me (para ela)
Puxou-me (para mais perto)
Um forte abraço ela me deu.

"Eu não sei dançar" Confidenciei,
"Pode deixar, eu sei".
Sorriu-me, conduziu-me.

E rodopiávamos como um só,
rodopiávamos como sobre as nuvens,
A bailarina e eu, a dançar. meu coração só não saia pela boca
|pois minha garganta deu um nó

Girávamos, girávamos, leves feito amantes.

Talvez eu soubesse sim dançar,
talvez eu só não tivesse feito certo antes.

Só precisava de um bom motivo,
de paixão no coração,
e agora tinha essa menina (minha bailarina).

Mas ela parou.
Parou.

E foi embora,
disse que eu poderia dançar com qualquer outra
que conseguiria, que ficaria bem.
Mas no primeiro passo trancei as pernas.
E nunca mais dancei com ninguém.

Dançar.

Poesia é como a dança,
Tudo que nós escrevemos
Parece fácil, não cansa.
Menti, nós sofremos.

Poesia é como a dança,
Só que esse nosso ballet,
Vai desde cá até a França,
E nunca é o que é.

Poesia é como a dança,
Mas em nosso pas de deux,
Eu pareço uma criança,
Sempre a me perder.

Poesia é como a dança,
Homens não fazem pointé,
Ignoro essa semelhança
Preciso escrever.


Poesia é como a dança,
Pouco importa se doer,
Tudo que nos interessa
É escrito em plié.


Poesia é como a dança,
Parece ser natural,
Mas lembre, nada se alcança
Mostrando o real.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O contador de histórias.

Tenho um amigo contador de histórias, ele é simpático, nada de mais. Tem mais ou menos a minha altura e um cabelo desarrumado que ele pensa ser bonito, nem ele é bonito, diga-se de passagem. Ele não é engraçado, mas suas histórias tem lá sua graça, seja de maneira tradicional, seja com ironia. O meu amigo não é tão ligado em política, mas mesmo assim evita dizer qualquer coisa que possa fazer com que o vejam como "de direita", como ele diz. Ele é um bom amigo.
Esse meu amigo já contou-me diversas histórias, mas mal sabe ele que também sou desse meio e vejo através dessa parede que ele construiu em sua frente. É, meu amigo contador de histórias não faz ideia de que eu sei que, quando ele conta uma história falando mal do sistema educacional, onde mostra-se a falha  nesse decorar-se tudo, eu sei que ele é a própria crítica, que ele vive essa vida regrada. E na velha história sobre amor, o rapaz que desperdiçou a grande chance de sua vida é ele mesmo, pobre dele. Esses são apenas exemplos da maneira como ele se esconde em suas histórias, mas eu o encontro.
E, bem, o contador de histórias continua com seu trabalho, alguns contos, umas crônicas, depois vem uma anedota para animar, tudo isso sem esquecer de si mesmo. Coitado do contador de histórias.

O contador de histórias.

Era uma vez um contador de histórias. Um contador de histórias que nunca falava "era uma vez" nem terminava com "viveram felizes para sempre".
Era uma vez um contador de histórias, que contava pequenas histórias, não grandes fábulas fantásticas, com lições de moral para todas as gerações. Ele contava pequenas histórias, que só ele sabia que eram estórias. Mudava pequenas coisas, irrelevantes, que ninguém percebia que não eram verdade. Como quando falava de uma bela garota e dizia que ela tinha 1,65m, mas ela tinha 1,60m. Ou dizia que ela riu de algo, mas apenas sorrira, realmente não fazia tanta diferença assim, para os outros, pois ele sabia, sabia que suas histórias não passavam de estórias, por mais reais que fossem, não eram reais. Não o culpem, ele sabia que mentia, e sempre que terminava uma de suas histórias-ligeiramente-modificadas dizia "pois é", quem sabe algum dia alguém captaria seu sinal, perceberia seu esquema, mas não, apenas diziam "como suas histórias são tristes, como você sofre, como você precisa ser amado." Mas não, ele era feliz, muito feliz, só tinha alguma inspiração e muita criatividade.
Mas não tenho duvidas quando digo que ele era feliz, põe feliz nisso, só não demonstrava isso, já que mentia tanto, pois é.