sexta-feira, 18 de maio de 2012

xXx

Agora mesmo tu deves estar a beijá-lo, a fazer carícias por todo o corpo, e ele está adorando cada segundo disso. Agora mesmo dizes coisas impublicáveis ao pé do ouvido dele, e ele sorri, ele a ama tanto, ele a deseja profundamente. Mas ele não é ingênuo, ele também conhece uma coisa ou duas. Ele te tem nas mãos, não só literalmente, ele a tem, e tu és toda dele. Ele te toca, ele te acaricia, ele beija teu corpo e enlouqueces. E eis que a brincadeira não é só brincadeira, ele tira a tua camisa, aquela que eu tanto adoro. 
Bem, acho melhor parar por aqui, jovens podem estar lendo. Não que eles sejam puros e infantis a ponto de não saberem nada disso, muito pelo contrário, eu simplesmente não pretendo dar esse prazer a eles. De qualquer forma, o que sucede todos sabem, e eu prefiro ignorar, mas ainda assim eu me pergunto, se pensas em mim vez ou outra. Não, não queria dizer durante a relação. Não, entendeu tudo errado, embora isso seja  bastante lisonjeiro, embora eu sonhe que grites meu nome quando te deitas com ele. Ou talvez sim, por que não?
É, quem me dera ser aquele em quem tu pensas ao se tocar, quem me dera ser teu, quem me dera ser aquele que a preenche, e mais uma vez não o digo no sentido figurado, quem me dera estar dentro de ti, amá-la da maneira mais pura e lasciva possível. Para o inferno com os jovens, que eles leiam o queriam ler, eu queria possuí-la, eu queria tocá-la, queria tê-la mesmo que não fosses minha, pouco me importaria que gritasses outro nome, que pensasses em outro homem, isso tudo faz parte, meu bem, queria que me desses prazer como nunca imaginou dar a alguém. Sim, dar. Simples assim, nada de eufemismos, nada de poesia, nada de figuras ou de ambiguidades, nada de "comê-la como se fosse doce", - até porque essa frase nem mesmo é minha - comê-la e só, há como ser mais direto? Eu e tu somente, ou melhor, eu e você - chega de tu, chega de caprichos e de falsa castidade, eu a desejo e ponto - em um quarto a sós, eu e você em uma cama, eu em você, você em mim, é simples.
E na manhã seguinte acordar ao teu lado, sem tanta lascívia, é claro, mas acordar ao teu lado e ver-te angelical a usar minha camisa como vestido, depois de ser impura, depois de ser ardente, depois de ser minha. É, quem me dera acordar ao teu lado e ouvir-te chamar-me de querido, quem me dera ser aquele em quem você pensa ao se tocar.
Mas você não pensa em mim? Nem mesmo de vez em quando, não precisa ser quando se toca, só precisa pensar em mim. Não pensa mesmo? Tudo bem, estou acostumado com isso.
Eu nunca te amei, a propósito.

xXx

Quando, esbaforido, eu parei na frente da sua porta, percebi que cada vez que eu subia as escadas para sua casa, ia ficando mais sem fôlego, larguei o cigarro.

Quando, abandonado, acordei na calçada, com uma dor de cabeça imensurável, percebi que cada vez que brigávamos, eu me estragava mais, larguei a bebida.

Quando, desolado, abri os olhos para a vida, depois de tanto sofrer e mentir para mim, percebi que cada vez que um problema aparecia, eu fugia da verdadeira razão da ruína da minha felicidade, larguei você.