sexta-feira, 25 de maio de 2012

Planos.

Um garoto nasceu em boa família, cresceu sendo educado em português e inglês, deixava a brincadeira de lado para dedicar-se aos estudos, isso desde pequeno. Ao entrar na escola sempre esteve à frente dos demais, sempre foi o orgulho dos pais e um exemplo a ser seguido. Por volta da sexta série, quando os outros garotos se preocupavam com futebol e garotas ele tinha de estudar e já falava duas outras línguas fluentemente. Os anos foram passando e ele mantinha esses índices e acrescentava outros, ele era um garoto tão especial, era o que sempre diziam. Passou o ensino médio entre trabalhos sociais e estudos intensos, era laureado sempre como o melhor estudante que seu colégio já havia tido. Entrou no melhor curso da melhor universidade do país, como era de se esperar. Evidentemente que em primeiro lugar, era para aquilo que todos seus planos haviam sido feitos. Na faculdade tudo se repetiu: primeiro em todas as classes, formado com louvor, mestrado, doutorado e tudo que ele podia conseguir em sua vitoriosa carreira. Casou-se com uma mulher que todos achavam linda, claro que ela também era formada em um ótimo curso de uma excelente faculdade. Tiveram lindos filhos, fizeram planos para eles, e eles também foram educados em português e inglês. Depois de todos esses planos, morreu.
Outro garoto nasceu em uma família qualquer, cresceu bagunçando a vida de seus pais, mas ainda assim ele era o grande amor deles. Na escola era um aluno mediano, nunca deu muito trabalho mas também não chegava a ser um gênio. O resto do ensino fundamental foi mais do mesmo, vez ou outra seus pais tinham de colocá-lo nos eixos, mas nada de mais. Apaixonou-se, teve seu coração partido, sorriu, passou por tudo que os jovens passam, não era um garoto especial, era um garoto como qualquer outro. No ensino médio ele deixou de ser ordinário, ao menos é o que ele pensava apenas por ter descoberto bandas desconhecidas e se vestir diferente, ele até queria ser artista. Namorou duas garotas que também eram diferentes, embora fossem idênticas uma à outra. Veio então a faculdade, ele não sabia muito bem o que fazer, todos o criticavam por não fazer planos, mas, de qualquer modo, ele entrou em um curso não muito bem visto, desse modo ele seria feliz e era esse seu único plano. O problema é que o repreendiam mais agora que tinha um plano de apenas ser feliz que quando ele não tinha plano algum, pouco importa, ele abandonou esse curso e mais dois, acabou se formando em algo que não gostava e parou na graduação mesmo. Entre o abandono do terceiro curso e o ingresso no quarto ele encontrou uma moça que o completava, era pintora, era dois anos mais nova que ele e era suicida até o dia em que o conheceu. Sua família e amigos lhe diziam que ela não era boa para ele, mas ele não queria alguém bom para ele, ele queria alguém para ele e, afinal, conhecê-la estava mais em seus planos que qualquer outra coisa, pois ela o fazia mais feliz que qualquer outra pessoa já havia feito. Foi ela que o fez terminar esse último curso para apenas ter um emprego estável, mas ela também sempre o apoiou em sua arte, ele tentou seguir com sua carreira de escritor, embora não fosse muito bom. Tiveram dois filhos e sempre mostraram a eles o quão importante era simplesmente ser feliz. Depois de toda essa sua felicidade, morreu.

Planos.

Admito que fiquei muito chateado quando nossa viagem deu errado. Eu havia planejado tudo há tanto tempo, todos os mínimos detalhes, o hotel, as passagens, as férias... mas não planejei ter caído as escadas e quebrado os dois joelhos, realmente.
Acho que foi um sinal, devia deixar de fazer tantos planos, viver mais espontaneamente, não pensar no amanhã sem dar atenção para o hoje. Mas ainda sim, planejei como seria quando você entrasse no quarto do hospital, você estaria tão preocupada, com seus pequenos olhinhos semi-marejados, eu faria alguma piada besta, você riria e me daria um beijo apaixonado. Admito que você lacrimejou, e riu, mas não nessa ordem; ao ver meu estado, com as pernas engessadas e suspensas, não pôde segurar uma sonora gargalhada, tanto riu que começou a chorar, ficou vermelha e sem fôlego, no final, como o planejado, me deu um beijo, não logo, tampouco romântico, pois ainda estava rindo e acabou mordendo meu lábio por descuido, e meus planos outra vez deram errado.
E pensar que há alguns meses atrás, não existia um plano sequer de tantos sorrisos, de tanta alegria, de você.