sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sala de espera.

Em uma sala de espera quase completamente vazia e aparentemente comum, uma moça aguarda pelo momento em que seu nome seja chamado. A moça também não é nada de especial, tem 1,59m de altura e deve pesar por volta 58kg  digo "deve" pois isto é coisa que não se deve perguntar a uma mulher, nem que você seja o autor de uma história sobre ela. Nos outros aspectos ela é igualmente ordinária, tem cabelos escuros, mas não pretos o suficiente para serem atraentes. Olhos igualmente escuros, sorriso sem nenhum encanto. Era tão qualquer coisa que até mesmo descrevê-la é um tédio, e é por isso que pularei para o momento em que algo acontece, podem imaginar o resto dela como bem entenderem, contanto que não seja nada de mais.
Bem, eis que entra um rapaz na sala, – mas acalme-se, amigo leitor, não é ainda que algo acontecerá, a tensão deve ser construída – ele é um rapaz lindo, mais alto que a média, atlético, lindos cabelos louros e maravilhosos olhos verdes, seu sorriso parecia iluminar a sala quando entrou. É muito engraçado e inteligente, embora isso não seja visível, mas ela sentia isso, uma vez que isso é apenas um texto, e personagens inexistentes conseguem sentir esse tipo de coisa.
O rapaz também sentia algo diferente da moça, e ela se perguntava se finalmente deixaria de ser invisível, se finalmente alguém a tiraria de sua vida tediosa. Eles trocavam olhares, esperavam por um momento de romance dos idos do século XIX, momento esse em que ele a trataria como princesa, a tiraria daquela vida sem brilho e mostraria um universo de possibilidades em que poderiam ser felizes.
– Júlia Silva, pode entrar, o doutor já vai te atender. – disse a atendente enquanto saía o paciente que estava  dentro do consultório. Aliás, até mesmo seu nome era tedioso, Júlia Silva.
Júlia entra no consultório com um ar de decepção, assim como foi toda sua vida, olha para trás como se esperando uma atitude do rapaz, que a olhava fixamente, mas nada fez. A sua consulta é dispensável para o andamento da história, foi uma consulta como qualquer outra, consultórios médicos e salas de espera não são exatamente aquilo com que todo escritor sonha, sinceramente.
Falando em sonhos, Júlia saiu do consultório e o rapaz foi direto em sua direção, disse-lhe que Júlia era um nome lindo, assim como ela era, e que significava "cheia de energia" – coisa que não condizia com ela, sinceramente – ele deixou sua consulta de lado, pois queria viver todo momento que pudesse ao seu lado. Daí em diante viveram uma vida de best-seller contemporâneo, cheia de alegrias e vazia de complexidade.
Mas isso é a ficção, amigos. Isso é o que nós escritores fazemos, o que poderia ter sido e não o que realmente foi. E você, querida leitora, desculpe-me por tudo isso, – ainda mais se seu nome for Júlia – desculpe-me por mostrar uma vida que nunca poderá viver, desculpe-me, muito embora a culpa seja da ficção, e não minha. Pois onde mais uma moça encontraria seu amor em uma sala de espera? Bem, ao menos Júlia não estava apenas lendo romances em sua sala, a esperar que sua vida fosse igual.

Sala de espera.

Sentado naquela poltrona confortável - nos primeiros dez minutos - ele olhava de 5 em 5 minutos - embora sentisse que fossem 15 - para o relógio na parede. O tic tic do ponteiro menor martelava em sua cabeça e ruidava seus pensamentos. Já sabia tudo daquele relógio, sabia que o ponteiro dos minutos travava entre o 3 e o 4, já pulando para o 5 quando era a hora, sabia decor a ordem dos pássaros que enfeitavam cada número, distinguia as pequenas diferenças entre o som de cada ponteiro. Tudo notado para tentar se distrair, fazer a hora correr.
Na TV passava algum programa fútil sobre celebridades e as pessoas que elas beijaram ou não, para ele é como se ela já não estivesse mais lá, apesar de algumas vezes olhar para ela para ver como o cabelo do apresentador tinha uma coloração talvez mais falsa que seu sorriso. Evitava ao máximo prestar atenção, sabia dos efeitos colaterais de deixar a TV passar seu tempo.
Observava os outros dois na sala com ele, igualmente entediados, igualmente sem algo para dizer e fazer o tempo passar.

De vez em quando coloca a mão no bolso e tirava de lá um papel amassado, abria-o com delicadeza e lia seu conteúdo, tentando escondê-lo dos outros, embora imaginasse que também tinham um, não havia outro motivo para estar lá além dessa carta.

Um deles se levantou, deu uma bufada descontente, caminhou com passos pesados para o canto da sala e ainda esperou alguns segundos antes de bater na porta que os três continuamente observavam.

TOC TOC TOC

Bateu e esperou, pensou em bater de novo, mas apenas esperou. A porta se entreabriu, e ele olhou pela fresta, pode-se ouvir algo, mas só ele conseguiu entender. Abriu um pouco mais e antes que a luz saísse ou entrasse da sala, entrou. 10 minutos mais tarde saiu de lá, com um sorriso enorme no rosto e uma maleta aparentemente pesada, no centro dela tinha um cifrão. Ele meneou a cabeça para os dois e foi embora sem dizer nada.

Os outros não tinham certeza, mas não duvidavam de que realmente o primeiro fora embora um pouco mais rico.
Ele ficou ainda mais ansioso, esperando que o tempo passasse mais rápido, mas só parecia que cada vez mais se arrastava. Uma meia hora se passou e o outro, suado, angustiado, ansioso, levantou-se e foi apressadamente para a porta. Colocou a mão na maçaneta, mas parou antes de girá-la.

toc toc

A porta novamente se abriu, e ele entrou rápido. Em 5 minutos saiu de lá com uma bela garota, baixa, ruiva, com olhos apaixonados para ele, que retribuía. Foram embora de mãos dadas e apaixonados.

Ele ficou lá, sozinho, esperando e esperando, tentando encontrar uma posição confortável naquela desconfortável poltrona. Caminhando pela sala, olhando o relógio e seu tic tic. O tempo passou, e passou, e passou.
Enfiou a mão no bolso e sem ninguém para esconder, abriu o bilhete que guardava, releu as letras minuciosamente. Na parte de trás continha um endereço, na parte da frente apenas uma mensagem:


Quanto mais se espera, mais recebe.


Esperou mais, e mais, os segundos duravam horas, as horas nunca mudavam, não sabia se já tinha se passado algum dia, alguma semana, só sabia que horas e horas já tinham se perdido nas areias do tempo.

A maçaneta dourada da porta de repente começou a girar, a porta branca se abriu por inteira, uma luz celestial iluminou aquela sala pastel. De dentro da sala saiu um homem grande, imponente, com uma barba alva e comprida, vestido apenas com uma toga branca e sandálias de madeira. Trazia algo em sua mão e pareceu surpreso ao ver o rapaz ainda esperando.

- É pra mim?! - Perguntou o jovem, ciente de que receberia o maior prêmio de todos.
- Bom... na verdade, o que você ainda está fazendo aqui? - O velho respondeu, coçando sua barba.
- Eu... estou esperando, oras. O que é isso em sua mão, se não meu prêmio?

O ancião mostrou então que carregava uma placa, o garoto leu-a e pareceu não acreditar. Riu insanamente, mas percebeu nos olhos do outro que era verdade, não teve reação alguma, ficou imóvel.
- M-mas eu esperei tanto! - Exclamou.
- Eu sei... Mas, talvez tenha sido demais, se houver uma próxima vez, melhor sorte. - Explicou o velho.

O jovem, talvez cansado de estar lá, talvez sem forças por esperar tanto sem comer ou dormir, talvez apenas compreendendo tudo, foi embora sem dizer nada. 

O homem foi então à outra porta, pela qual todos saíram e colocou a placa nela, fechou-a e voltou para sua sala. A placa dizia apenas: fechado.