quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Súcubo e o Serafim.

A noite cai nos céus, já é noite e ele vai deitar-se. Pensa sobre as coisas que deveria ter feito, pensa no que deve fazer no dia seguinte, é responsável. Pensa sobre coisas diversas, teorias de travesseiro e coisas similares, nada de extraordinário ou importante, ao menos para o mundo. Serafim enfim adormece.
Lá está ela, ela deitada sob ele, ela se entrega, ela é dele, ela é possuída, ela e ele, nada mais, o amor é puro. Mas ele perde tanto, agora é ela a tomar-lhe a vida, ele só faz pensar nela, ela só faz doer seu coração, ela lhe tira toda a atenção, não pensa em mais nada e ela não pensa nele, por que o amor há de ser assim, pecaminoso e ladrão das atenções?
Ou talvez não. Ele talvez não seja o herói que todos pensamos, apenas porque ele a ama ele a merece? Por Deus, e o que ele fez por ela alguma vez? Sim, ele deve respeitá-la, mas não precisa ser apenas um anjinho, tão sem graça e branco como a neve. A vida é mais divertida quando colorida. Ele precisa pintar, ele precisa alegrá-la e, porque não, sujá-la. Às vezes é necessário ser sujo sim, Serafim.
E ela, meu amigo, ela não é o pecado, ela é apenas o amor, há quem confunda os dois. Não, ela não precisa ficar necessariamente embaixo, dê-lhe a opção, ela pode sim ascender, ela é também digna disso. O fato de ela divertir-se não faz dela uma desvairada. Não, nada disso, apenas deixe-a ser assim, Serafim.

A Súcubo e o Serafim.

Personagens -

A súcubo - uma Súcubo do Inferno;
O serafim - Um Serafim do Paraíso;
Deus - O todo poderoso.

Cena -
Um lugar deserto, sem chão, sem céu, apenas o nada. O vazio da existência.

A SÚCUBO, olhando à sua volta
Onde estou?

O SERAFIM
Tu não estás em lugar algum, tu apenas estás.

A SÚCUBO, virando-se
Quem sois vós? Que queres dizer com apenas estou? Explique-te agora, não sabes com quem está lidando.

O SERAFIM
Uma Súcubo, em verdade, há tempos não via uma, ainda mais aqui, estás no Purgatório, pobre criatura, e o Purgatório não é um lugar, é um estado, uma condição de existência. Espanta-me que tenha chegado tão longe, afinal, és um demônio.

A SÚCUBO
Como sabes tudo isso?

O SERAFIM
Bom... Além de minha sabedoria inata, do meu conhecimento do que é sagrado, do sacrilégio e todo o resto, devo admitir que sou habituado com esse lugar. Sou mandado aqui de vez em quando para julgarem se devo permanecer no Paraíso.

A SÚCUBO
Um anjo... tens seis asas, sempre achei que anjos tivessem apenas duas como nós, mas afinal, sempre voltas ao Paraíso? E por que eu vim para cá dessa vez?

O SERAFIM
Sou um Serafim, da ordem os anjos mais próximos a Deus, não sou um mero anjo, por isso tenho seis asas, e por isso sempre volto ao Paraíso. Afinal, sou um anjo, és um demônio, não importa o que viestes fazer, voltará ao Inferno.

A SÚCUBO
M-mas, eu não mereço, nunca fiz nada de errado, nunca tive más intenções, são os outros que fazem o que é errado, eu apenas estou lá, eu mereço o Paraíso!

O SERAFIM
E eu, ao contrário, corro das coisas boas, o que é certo me dá asco, faço o que quero, quem liga? Mereço o Inferno, apesar disso, voltarei ao Paraíso, imagino até que estou aqui contigo para que aprendas algo, quem sabe, uma aparição de um anjo só pode ser uma benção. A aparição de uma Súcubo é mau presságio, é pecaminoso, entenda isso.

A SÚCUBO
Eu nunca, jamais quis fazer algo errado, mas os homens sempre me viam, me olhavam, com aqueles olhos, aquele olhar grotesco, eles faziam tudo, eu ficava quieta e aguentava, eles ficavam felizes no final... Eu queria poder fazer as pessoas felizes, mesmo que a esse preço.

O SERAFIM
E eu, ao contrário, apareço aos homens e lhes digo loucuras, mas minha aura, meu halo, todos acreditam cegamente, eles faziam o que eu dizia, sofriam e acreditavam ser o caminho do Senhor. Aqui, olhes para mim e para tu, vejas como somos iguais.
Desenrola as asas de seu corpo.

A SÚCUBO Se olhando e depois olhando o Serafim

Estamos ambos nus, mas...  somos diferentes, teu corpo... ele passa, pureza, ele é belo, ele é casto, eu... sou uma puta.

O SERAFIM
Succuba, em latim, prostituta. Não importa o que faça, será sempre uma Súcubo, eu sempre serei um Serafim - um ser nobre.

A SÚCUBO
Não! Eu vim para por algum motivo, eu tenho uma chance, eu sei que tenho, afinal, um Serafim apareceu para mim, mesmo que seja tu.

O SERAFIM
Sim, e tentas me seduzir, queres que eu peque. Eu, ao contrário, quero te guiar, iluminar-te. Não importa o que aconteça.
Aproxima-se da Súcubo, toma-a nos braços e a beija.

A SÚCUBO afastando-o

Pare agora! Não se atreva! O que dirás agora? Tentas me purificar? Levo-te por caminhos pecaminosos? Não, não mais.

Gritos de lamentação são ouvidos

A SÚCUBO

O que é isso? Quem são?

O SERAFIM
Ah, parece que chegaram a um veredito, as almas agora sofrerão o purgatorio ignis, se merecerem, queimarão seus pecados e vão ao Paraíso, se merecerem, queimarão no Inferno. Como és de lá, não sentirá nada novo, já eu estou imune por a serpente ardente de Deus, estamos salvos da salvação, querida. Apenas voltaremos de onde não deveríamos sair.

Uma luz cegante se alastra, quando os dois abrem os olhos, ainda estão no Purgatório

A VOZ DE DEUS

Eis vossa salvação e danação eterna.


As cortinas se fecham