domingo, 19 de maio de 2013

A Poetisa.

No início, era só ela.
Ela e mais nada,
ela e ela.

Surgiu a luz, 
para iluminá-la.

seus lábios se dobraram,
e soprou a vida,
soprou o ar,
vento que se enrolava em seus cachos,
envolvia seu corpo,
seu quadril desnudo.

Pisou forte no chão,
a terra era uma só com ela,
a grama brotava, amaciava seus passos,
agachou-se,
passou a mão, sujou-se de terra,
flores nasciam,
arrancou uma margarida,
colocou-a atrás da orelha.
Deitou-se e olhou para o céu.

Esticou as mãos para cima,
sorriu,
com os olhos fechados, apenas sentia,
das nuvens caíam gotas d'água,
a chuva a limpava,
enchia lagos,
oceanos.

Levantou-se ensopada,
dançou para se secar,
o Sol apareceu no horizonte,
brilhava, ardia,
a chuva foi embora,
mas deixou um arco-íris.
Ela ria, abriu os braços.

Borboletas de todas as cores a rodeavam,
todos tipos de animais surgiam,
dançavam com ela,
todos em paz,
todos felizes.

Por dias e noites, festejaram,
comeram das frutas que cresceram de árvores,
beberam da água dos riachos,
por dias e noites, festejaram.

E quando ficou sozinha,
quando seu coração apertado
ficou solitário.
Surgiram mais,
da lama, ela soprou-lhes vida.

Homens e mulheres,
nasceram,
cresceram,
amaram.

Amaram-na
dedicaram-lhe poemas,
canções,
rimas e orações.

Criou o mundo,
o amor,
a vida.
Criou tristeza,
sorrisos,
lágrimas e alegria.

Tudo se iniciou,
com a primeira poetisa.

A poetisa.

Tinha um sonho inquieto.
Os poemas beijavam-me.
Oh, se me amasses,
Mesmo que tiranicamente,
Mesmo como grito.

Você estava comigo então?
Quando choramos juntos, 
quando caímos juntos, 
quando veio o adeus...
Mas não estava.
Nem PRONTA,
Nem comigo.

Despenteado ar de graça,
que nem santa.
Nem deuses salvariam
Da imagem posta em minha frente.

Não, não digo que rasga -
mas queima-me a ponta dos dedos.
Queima-me tentar alcançar,
A pele que nunca foi minha.
Mas acalmo-me
Pois eu sei que não mata -
amputa-me de um amor.

Eu revelei-me demais e o sei,
desnudei ombros e pescoço
e toda a sombra que eu inventei
caiu sobre meu antro insosso.

Eu pensava que era o maior poeta da minha vida
e tu ali, jazida doce.